O governo não gostou nem um pouco das declarações dadas pelo vice-presidente, Michel Temer, na noite de quinta-feira, afirmando que a presidente terá dificuldades para chegar a 2018 se mantiver a taxas de popularidade tão baixas, oscilando entre 7% e 8%. Mas justamente por ser tão impopular e estar tão fragilizada, Dilma Rousseff e os ministros próximos a ela engoliram as palavras de Temer cientes que será a petista, e não o peemedebista, a principal vítima se houver mais um confronto direto entre eles. “O vice-presidente Michel Temer tem compromisso com o governo Dilma e com o Brasil. Estamos diante de um democrata e de um líder político muito correto. Seus gestos falam mais do que suas palavras”, disse o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.
Outros integrantes do primeiro escalão, ainda que reservadamente, defenderam o vice-presidente, mas reconhecem que ele tem mantido um equilíbrio sobre humano ao não se rebelar explicitamente contra o processo de fritura pelo qual passa internamente. “Não tenho nenhum motivo para achar que o Temer está conspirando contra nós. E entendo todos os motivos que o levam a estar chateados conosco”, disse um ministro com livre trânsito no Planalto. O mesmo graduado integrante do primeiro escalão disse que a razão da angústia de Temer tem nome, sobrenome e está no quarto andar do Planalto.
Mas nem todos os governistas são tão condescendentes com o vice-presidente. “As palavras dele foram um desastre. Ele estava diante de uma plateia ávida pela queda da presidente e, de um jeito sinuoso, disse exatamente o que eles queriam ouvir. Foi inacreditável”, afirmou uma liderança governista no Congresso. Para este parlamentar, o vice-presidente é experiente demais para dizer que escorregou nas palavras. “Ao falar o que falou, o vice-presidente deixou claro que é uma alternativa ao que aí está. Pessoalmente, não acredito que ele esteja trabalhando para minar a presidente da República.
A interlocutores, Temer disse ontem que suas palavras foram descontextualizadas. Bateu na tecla de que a situação da impopularidade é passageira, desde que o governo retome o controle da economia e da política. Para um dos vice-líderes do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), o vice deu uma grande demonstração de lealdade. “Ele pode até ter o cometido o erro e aceitado participar de um evento de socialites desgostosas com o governo. Mas deixou claro que não se deve esperar, dele, qualquer movimento público para desestabilizar a presidente Dilma Rousseff”, lembrou Zarattini.
Para o vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), Temer reproduziu um diagnóstico correto que está sendo feito em todas as instâncias decisórias do país, inclusive no meio econômico. Mas negou que o vice esteja estimulando um desembarque do governo. “Ele não entregou os pontos. Ele fez uma constatação, um diagnóstico que todo mundo faz.
Para lideranças da oposição, as palavras de Temer são uma prova de que o afastamento peemedebista em relação ao Planalto é irreversível. “Essa fala é um sintoma de que a relação não está tão tranquila como deveria ser. Acho que revela um certo nervosismo, uma certa impaciência do vice em relação à situação do País”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). As suspeitas oposicionistas são reforçadas pelo fato de Temer ter colocado um possível prazo de validade para o governo caso a popularidade não seja revertida diante de uma plateia contrária ao governo. O encontro foi organizado por Rosângela Lyra, que lidera o grupo batizado de ‘Acorda, Brasil’, que é a favor do impeachment da presidente.
A empresária já teria manifestado a políticos próximos que é a favor da “solução Temer”, ou seja, que o seu grupo apoiaria o vice caso ele viesse assumir à Presidência no lugar de Dilma.
GOLPISMO Para o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação no governo Lula e ex-presidente do PSB, Roberto Amaral, a fala de Temer expressa “um golpismo explícito”. “É muito triste e muito grave. Falou o vice-presidente da República, o sucessor direto da presidente”, disse Amaral. Segundo ele, não se pode encarar esse como um deslize, já que as declarações em que Temer sinaliza com a hipótese de assumir o governo são recorrentes. “Dizer que não há uma tentativa de golpe é esconder o sol com a peneira.”
TROCA DE DISCURSO Um dia após ter dado uma declaração colocando em dúvida que a presidente Dilma Rousseff conclua o mandato caso mantenha a baixa popularidade, o vice-presidente Michel Temer afirmou, ao diário americano The Wall Street Journal, ter total confiança de que a presidente governará até 2018.