Ao longo do tempo, diante da omissão do Congresso Nacional, a Justiça Eleitoral foi obrigada a preencher lacunas. Assim, por meio de resoluções, tem apertado o cerco no controle e fiscalização, inclusive com convênios e portarias com órgãos como a Receita Federal, que permite que as informações financeiras de doadores sejam averiguadas e confrontadas. O fato pode ser constatado na evolução das prestações de contas ao longo dos últimos 12 anos, de acordo com os dados analisados pelo cientista político e pesquisador Vitor de Moraes Peixoto, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Nas últimas sete eleições realizadas no país, a partir de 2002, os valores arrecadados e declarados à Justiça Eleitoral em todas as campanhas somam, em números atualizados, R$ 24,12 bilhões.
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Desde 2002, campanhas eleitorais já conseguiram R$ 24 bilhões de financiamentoOAB cobra fim de financiamento empresarial para 2016OAB pede que Supremo proíba financiamento empresarial de campanha já em 2016Câmara restabelecerá financiamento privado na reforma política, diz CunhaDilma veta financiamento privado de campanhaSTF retoma nesta quarta-feira julgamento sobre financiamento privado de campanhas“A principal característica das doações é que poucos grupos econômicos concentram consideráveis volumes de doações, o que tem consequências para a qualidade da democracia e o tipo de influência que esses doadores adquirem nos governos”, diz Vitor de Moraes Peixoto. “Só nas eleições do ano passado, o financiamento formal de todos os cargos em disputa somou em valores atualizados R$ 4 bilhões.
Além de expressiva concentração de doadores, já que a legislação em vigor estabelece como limite para contribuição apenas 2% do faturamento econômico no ano anterior – o que representa quantias vultosas no caso de grandes grupos –, não há menção a qualquer tipo de limitação aos gastos e arrecadação dos partidos políticos, sustenta o pesquisador. “Isso também é problemático”, afirma Peixoto, para quem o debate em torno de proibir ou não a participação de empresas é limitador pois não ataca o cerne da questão. “Se as empresas forem totalmente proibidas de doar, duas coisas têm grande probabilidade de ocorrer. A primeira é o crescimento político-eleitoral das igrejas, que são as organizações com capilaridade e estrutura para recepcionar e fazer campanha sem precisar de recursos”, diz ele.
A segunda possível consequência, segundo o pesquisador, é o aumento das doações ilícitas que, embora não tenham sido abolidas das campanhas, diminuíram muito como demonstra a evolução das prestações de contas. “Durante a ditadura militar tivemos o único momento na história eleitoral em que as empresas ficaram proibidas de fazer doações. A regra foi instituída em 1965, com o bipartidarismo”, diz ele. “Nem por isso, nas eleições presidenciais de 1989, ainda sob a vigência dessa proibição, deixamos de ter o Collorgate.
De fato, o primeiro grande escândalo após a consolidação da abertura democrática derivou do chamado “esquema PC Farias”, ex-tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello. Por um lado, a CPI no Congresso Nacional lançou luz sobre os métodos utilizadas pela campanha para arrecadação. “Mas não se pode dizer que os demais candidatos não fizeram o mesmo, recorrendo a esse tipo de financiamento privado, numa época em que era proibido”, sustenta Peixoto.
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