Líderes dos partidos na Câmara se mostram divididos em relação ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, com uma tendência contrária à saída da petista do Palácio do Planalto. Levantamento do Correio Braziliense/Estado de Minas com os comandantes de 18 partidos — e que representam 95% da Casa — mostra que há cinco siglas a favor da cassação, oito contra e cinco que não se manifestam sobre o tema. Nesse último grupo, há os chamados “independentes” e aqueles da base aliada com quem os governistas de carteirinha têm certas reservas. Hoje pela manhã, o PCdoB promove um café da manhã com o núcleo duro de aliados para tentar superar a crise, contrapor o discurso de impeachment da oposição e, aos poucos, recuperar os partidos que se dispersaram ao longo da crise político-econômica.
Na oposição, todo mundo é a favor do impeachment, menos o líder do PSol, Chico Alencar (RJ). A assessoria dele adianta que essa é a visão de todo o partido. Ninguém empunha bandeira para apoiar Dilma, mas também não engrossa movimentos vistos como de direita. PSDB, DEM e SD e PPS são a favor da saída da presidente.
O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), afirmou que já existem condições jurídicas e políticas para cassar o mandato de Dilma. “Estamos vendo o acórdão do TCU sobre as pedaladas, e a Caixa processando o governo por causa disso e prejuízos com os ministérios, temos (a investigação das contas da campanha presidencial no) TSE, as delações premiadas (da Lava-Jato)...”, enumerou o oposicionista. “Na parte política, temos o povo nas ruas e o movimento dos deputados pró-impeachment”, afirmou Bueno.
Concorda com ele o vice-líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT). Ele enfatiza que o impeachment é uma decisão mais política que jurídica. “Há toda base legal, moral e política para isso. Dilma cometeu crimes de responsabilidade fiscal e sua presença no governo está empobrecendo o brasileiro”, afirmou.
Na base aliada, estão com Dilma os líderes do PMDB, PT, PDT, PSD, PP, PCdoB e Pros. O comandante do PDT, André Figueiredo (CE), garante lealdade ao governo, embora os demais governistas tenham desconfiança com ao menos uma parcela dos pedetistas. “Da parte do PDT, nada justifica impeachment”, garantiu ontem ao jornal. “Dilma não é ré em nenhum processo.” O líder do PMDB, Leonardo Piccioni (RJ), também rejeitou qualquer possibilidade de cassação.
Recomposição
Entre os que não responderam às perguntas ontem, estão os líderes dos independentes PSB, PTB e PV, mas também os comandantes das siglas governistas PR e PRB. “Não tem como responder por telefone”, justificou o líder do PTB, Jovair Arantes.
A líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), organiza na manhã de hoje um café com líderes e presidentes de partidos da base. O PTB de Jovair não foi convidado. “Não é base, mas também não é oposição”, disse ela à reportagem. “Primeiro vamos convidar os outros”, explicou Jandira. O PV não foi convidado para o evento. O PSB estava em negociação.
Segundo Jandira, um dos objetivos é “retomar a base, que tem tido algumas dispersões”. Os comunistas querem reafirmar o resultado das urnas e combater o impeachment. “Vamos tomar algumas posições em relação à crise e enfrentar esse cerco político que tentam fazer em relação à questão democrática.”
O levantamento do jornal considerou as bancadas que tinham mais de 10 deputados. Também considerou os partidos PV e PSol, apesar de serem siglas menores tendo em vista que, mesmo assim, não se coligaram a blocos partidários. Juntas, essas 18 legendas representam 487 parlamentares, ou 95% dos 513 deputados. O jurista e ex-petista Hélio Bicudo tem até semana que vem para refazer seu pedido de impeachment, apresentado no dia 1º. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), determinou que ele fizesse adaptações formais na solicitação.