Governadores de todos os partidos pretendem fazer uma reunião nesta quarta-feira, em Brasília, com o objetivo de avaliar o impacto das medidas de austeridade fiscal anunciadas pelo governo e tentar chegar a um consenso em relação ao valor da nova Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) que vão reivindicar ao Congresso. Na segunda-feira, 19 governadores de partidos da base aliada jantaram com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada e, apesar de prometerem apoiar o ajuste, fizeram várias queixas e apontaram para a "extrema gravidade" do cenário político e econômico.
A proposta de recriação da CPMF apresentada pelo Palácio do Planalto foi de 0,20%, mas, por enquanto, só atende à União, com recursos "carimbados" destinados a cobrir gastos da Previdência Social. Os governadores, porém, querem voltar à alíquota original da CPMF, que foi extinta em 2007 e era de 0,38%, dividindo os 0,18% a mais entre Estados e municípios.
A ideia do Planalto era enviar ao Congresso uma proposta de CPMF de 0,35%, para ser dividida, mas o plano acabou sendo derrubado na reunião com a equipe econômica no fim de semana. Na ocasião, ficou decidido que era preferível deixar para governadores e prefeitos o desgaste de ter de pedir ao Congresso o aumento da alíquota da CPMF. Além disso, o Planalto calculou que, com essa estratégia, todos poderiam se empenhar mais pela aprovação do novo imposto.
No jantar da segunda-feira, governadores de partidos da base aliada cobraram de Dilma mudanças na coordenação política do Planalto. Embora tenham garantido respaldo às medidas de austeridade fiscal, classificadas como um gesto importante para superar a crise, governadores alertaram sobre os problemas que a presidente terá no Congresso para a aprovação do pacote que reedita a CPMF e congela salários do funcionalismo.
"O governo não aprova a CPMF, quem aprova é o Congresso. Nós nos empenharemos bastante para aprovar essas medidas no Congresso", afirmou Dilma em entrevista nesta terça-feira, após solenidade de entrega do Prêmio Jovem Cientista, no Planalto.
"O problema do governo não é a economia, mas, sim, a política", disse o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), ao reclamar para Dilma, no jantar de segunda-feira, do vaivém nas decisões e da demora do Planalto em reagir, além das dificuldades no relacionamento com o Legislativo.
As críticas mais veementes aos problemas na política partiram justamente dos petistas - cinco entre os 19 governadores presentes. Além de Dias, Tião Viana, do Acre, manifestou a insatisfação com a "descoordenação" política do Planalto. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, garantiu que a interlocução do governo com o Congresso vai melhorar.