Diante das resistências para aprovar o pacote fiscal, a presidente Dilma Rousseff vai mexer no "núcleo duro" do governo e reforçar a articulação política com o Congresso. A estratégia prevê o fortalecimento da Secretaria-Geral da Presidência, que hoje cuida dos movimentos sociais, e a volta de Ricardo Berzoini, atual ministro das Comunicações, para fazer a "ponte" entre o Palácio do Planalto e o Congresso.
Interlocutores de Dilma disseram à reportagem que ela está sendo cada vez mais pressionada pelo PMDB e mesmo pelo PT a substituir Aloizio Mercadante (PT) na Casa Civil. Apesar de ser o homem de confiança de Dilma, Mercadante coleciona atritos no Senado e na Câmara.
Em conversas reservadas, o nome que voltou a ser citado para a Casa Civil é o da ministra da Agricultura, Katia Abreu (PMDB). Dilma, porém, ainda não bateu o martelo sobre essa troca.
Preocupado com os desdobramentos da crise, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai desembarcar nesta quinta-feira, 17, em Brasília e, mais uma vez, aconselhará Dilma a convocar o titular da Defesa, Jaques Wagner (PT), para a Casa Civil.
Governadores
Na segunda-feira, governadores da base aliada que se reuniram com a presidente pediram mudanças urgentes na articulação política do governo com o Congresso. Alegaram que, diante do agravamento da crise política e econômica, Dilma não aprovará as medidas para reequilibrar as contas públicas se não mexer no coração do governo.
A maior cobrança partiu dos governadores Tião Viana (AC) e Wellington Dias (PI), ambos do PT. Mais tarde, pelo menos dois parlamentares do PT com expressão no Congresso chegaram a dizer a Dilma que, se ela não fizer alguma coisa, seu mandato corre sério risco.
A avaliação do Planalto é de que a mudança no núcleo do governo não é suficiente para aprovar remédios amargos, como uma nova versão da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) ou o congelamento do reajuste salarial do funcionalismo, mas pode ajudar nas negociações.
Trânsito
Berzoini já foi ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), no primeiro mandato de Dilma. Ex-presidente do PT, ex-deputado e com bom trânsito com o Congresso, ele trabalhará com o assessor especial da Presidência, Giles Azevedo.
O modelo da reforma administrativa ainda não está fechado, mas Dilma já anunciou que cortará dez dos 39 ministérios, com uma economia estimada em R$ 200 milhões. Uma das ideias é que a articulação política seja transferida para a Secretaria-Geral da Presidência, com Berzoini à frente da pasta. Hoje, a Secretaria-Geral é dirigida pelo ministro Miguel Rossetto.
A verba de publicidade sairá da Secretaria de Comunicação Social (Secom) e migrará para a Secretaria-Geral. Se Berzoini não for para a pasta, o ministro-chefe da Secom, Edinho Silva, pode ser deslocado para lá. Nesse xadrez, Dilma ainda avalia se a SRI será extinta ou se ficará sob o guarda-chuva da Secretaria-Geral.
Os ministérios de Previdência e Trabalho devem ser juntados. O plano é unir, ainda, as pastas de Agricultura e Pesca, além de Desenvolvimento Social com Desenvolvimento Agrário.