Jornal Estado de Minas

Planalto busca conciliação

Desenho do governo para a reforma ministerial entrega função de articulador político a petista

Brasília – A presidente Dilma Rousseff, que mantém a disposição de anunciar a reforma ministerial até quarta-feira, antes de embarcar para os Estados Unidos, pediu a todos os ministros um levantamento minucioso dos cargos, diretorias, assessorias, para saber o que pode ser extinto e o que pode ser fundido em outras estruturas administrativas. Ela reuniu-se mais uma vez ontem com o chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante; do Planejamento, Nelson Barbosa; e da Controladoria-Geral da União (CGU), Valdyr Simão. Quando ainda era secretário-executivo da Casa Civil, Simão fez um levantamento detalhado do tamanho da Esplanada e de quanto a União gasta em alugueis para manter esse aparato. Ponto nevrálgico da reforma, a articulação política deve ser tocada em uma equação que concilie PT e PMDB na tarefa.

A presidente sinalizou que vai negociar com o PMDB a indicação de pelo menos três nomes para compor seu novo ministério e atender principalmente os grupos do Senado, da Câmara dos Deputados e do vice-presidente Michel Temer. Dilma e os ministros também discutiram o formato do pacote econômico a ser enviado ao Congresso. Ela quer resolver ambas as pendências nesta semana. Segundo apurou o Estado de Minas, embora tenda a aceitar modificações às propostas originais, como, por exemplo, a redução de 4 para 2 anos no prazo de vigência da CPMF e a retirada da obrigatoriedade de as emendas do orçamento impositivo serem destinadas às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma defendeu internamente que as mudanças só ocorram durante a tramitação das propostas na Câmara e no Senado. O receio é de que, se isto acontecer antes, o Congresso desvirtue o ajuste fiscal.


Dilma ainda tenta achar uma equação para fechar a reforma ministerial.
Está sedimentada a tese de que o atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, será o responsável pela articulação política do governo, ao lado do assessor especial da Presidência, Giles Azevedo. Para exercer com mais segurança essa missão, Berzoini deverá ser deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência, no lugar de Miguel Rossetto, tendo Giles como seu secretário-executivo. A Secretaria de Relações Institucionais (SRI) seria extinta.

Esse desenho daria mais prestígio à tarefa de coordenação política, evitando o modelo utilizado no início do ano em que a tarefa era exercida pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha. Além disso, Dilma não precisaria deslocar o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, para a Secretaria-Geral, sendo obrigada a procurar outro nome para ocupar o comando da Secom.

Berzoini já teria, até, aceitado a missão, mas deixou claro que contará com o apoio de Temer na tarefa. Ele e o titular da Defesa, Jaques Wagner, sempre defenderam a entrada do PMDB na articulação política e elogiaram o trabalho feito pelo vice e por Padilha durante a tramitação do ajuste fiscal no Congresso. Temer chegou na última sexta-feira de uma viagem à Rússia e à Polônia e, até o fim do dia de ontem, ainda não havia se reunido com a presidente Dilma Rousseff.

APROVAÇÃO


Quando ainda estava em Moscou, ele recebeu um telefonema de Mercadante. O petista queria sondar do peemedebista se haveria alguma restrição à nomeação de Giles como secretário-executivo da SRI — não da Secretaria-Geral, plano pensado atualmente.
Temer não se opôs à escolha da presidente. Quanto às medidas do ajuste econômico, Temer, quando estava viajando, preferiu deixar para tecer comentários apenas quando retornasse ao país.

Ele deve encontrar-se com os correligionários amanhã para se inteirar das mudanças. O PMDB continua sendo o fiel da balança na estabilidade política da presidente. Durante o périplo por Brasília na quinta e na sexta, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a tarefa de ajudar a tramitação das medidas econômicas no Congresso e pediu ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que fosse cauteloso com a tramitação dos processos de impeachment na Casa. Colaborou Célia Perrone

Troca de farpas

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes voltou a acusar o PT de retirar recursos públicos de forma ilícita da Petrobras para financiar o partido. “Eles avançaram sobre o dinheiro público, pois esse era o dinheiro da estatal”, afirmou, na abertura de fórum de agronegócios, ontem, em Campinas (SP). Instado a explicar o termo “cleptocracia”, que havia utilizado numa referência ao governo do PT, ele confirmou que em grego significa o poder nas mãos de ladrões. De acordo com Mendes, o termo lhe ocorreu durante a discussão sobre o financiamento de partidos políticos no Supremo.
Os ataques de Gilmar Mendes na quarta-feira, durante a sessão de julgamento sobre o financiamento de empresas, já haviam irritado os petistas. Ontem, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, reagiu a esses comentários. Em redes sociais, Wagner disse que as acusações “não condizem” com um magistrado da mais alta Corte do país e que as cadeiras do STF “não comportam paixões”. “São local de equilíbrio e não comportam paixões”, publicou o ministro no Twitter e no Facebook..