Enquanto o Facebook será usado nas campanhas municipais do ano que vem para promover a interação do candidato com os eleitores, debater, “convencer”, mobilizar e apresentar as plataformas políticas, o WhatsApp será muito empregado numa espécie de campanha “subterrânea”, para ataques aos adversários em vídeos, charges e textos. Essa plataforma também vai veicular mensagens “olho no olho” do candidato aos seus eleitores-participantes, que se encarregam de reproduzi-las em seus múltiplos grupos no WhatsApp, além de seu uso burocrático para a organização interna das campanhas, coordenação de apoiadores e de tarefas.
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BH vira palco de movimentos sociais por reforma política e econômicaMapeamento nas redes sociais indica aumento das citações a LulaBoneco inflável de Lula vira meme nas redes sociais#CunhaNaCadeia fica entre os assuntos mais falados nas redes sociaisSites oficiais viram palanque dos governos e deixam a desejar na prestação de contasRede corre contra o tempo para participar das eleições do ano que vem em MinasO crescente acesso da população brasileira à internet vem acompanhado para expressiva maioria do uso, ato contínuo, das redes sociais. Pesquisa para traçar o perfil de usuários das mídias sociais conduzida por Rosane Santana em janeiro deste ano, em Salvador, mostra que 65,3% da população está conectada à rede mundial. Destes, 87,9% são usuários de mídias sociais. “Esses resultados são uma boa aproximação para o que está ocorrendo nas capitais brasileiras.”
Em se tratando de mídias sociais, as vedetes são o Facebook, que, para 75% dos usuários, vem acompanhado do uso simultâneo ao WhatsApp. Dados da pesquisa mostram que entre aqueles que usam as redes sociais, 91% acessam o Facebook, 84% estão no WhatsApp e 75% utilizam as duas plataformas de forma sobreposta.
O Facebook parece ser a plataforma na qual os usuários mantêm a principal base de acessos, interações e conversações. “Relatórios do Facebook, divulgados em agosto e em dezembro de 2014, ou seja, no período da campanha presidencial, mostraram que 66,2% dos 89 milhões de usuários no país acessavam-no diariamente”, sustenta a pesquisadora. A partir dessa plataforma, se sobrepõe o uso das demais, principalmente do WhatsApp. A diferença é que na mais popular o conteúdo é público. Na segunda mais acessada, o conteúdo é restrito.
Mensagens
“No Facebook, todos podem acompanhar o que está ocorrendo nas páginas dos candidatos e de seus apoiadores. Já o WhatsApp, que permite uma espécie de bate-papo em tempo real, por meio do qual estudiosos estimam sejam trocadas 30 milhões de mensagens por dia, só é visível aos integrantes dos grupos”, considera Rosane Santana. Ela lembra que estar ou não acessível ao público é crucial na definição dos respectivos usos nas campanhas.
Portanto, as duas plataformas de mídias sociais mais populares no país e no mundo – são 1,49 bilhão e 800 milhões de usuários respectivamente do Facebook e do WhatsApp – terão, no ano que vem, uso complementar nas campanhas políticas para prefeitos municipais.
Para além dos aspectos burocráticos e práticos de coordenação das campanhas, o segundo, que permite compartilhar imagens em .JPG e vídeos, com um limite de tamanho de 15 megas cada, potencializando a interação entre grupos de até 50 usuários, mostrará a face mais obscura das estratégias de comunicação: entre grupos de apoiadores dos candidatos serão veiculadas desde mensagens diretas dos candidatos aos ataques e informações distorcidas, com a intenção de atacar o adversário. Os grupos de apoiadores que as receberão terão a função de repassar o conteúdo aos seus contatos.
Acesso permanente
Setenta por cento dos eleitores que usam simultaneamente o Facebook e o WhatsApp acessaram as redes sociais todos os dias ao longo da campanha presidencial do ano passado. Um quarto desses eleitores usou as redes sociais para discutir política, postar, comentar, reproduzir e repassar conteúdos de apoio aos candidatos de sua preferência. São eleitores engajados não apenas no universo virtual, mas também são ativos off-line, na vida cotidiana.
“Os eleitores usuários do Facebook e também do WhatsApp que participam on-line são também ativos off-line e pertencem ao mesmo estrato socioeconômico”, sustenta a pesquisadora Rosane Santana, que conduziu em janeiro deste ano uma pesquisa em Salvador, na Bahia, para analisar o perfil sociodemográfico e a atitude política dos usuários dessas redes sociais.
Esses resultados mostram que os eleitores usuários do Facebook sobreposto ao WhatsApp são mais engajados politicamente – exibem níveis mais altos de participação online e off-line – do que os eleitores que usaram só o site de relacionamento ou a plataforma de mensagens instantâneas. São eles principalmente jovens entre18 e 34 anos e nível de escolaridade médio. Os eleitores usuários do WhatsApp situam-se nas faixas etárias acima de 35 anos, apresentaram a segunda maior frequência de acesso à internet. Os eleitores usuários do Facebook sobreposto ao WhatsApp e os do WhatsApp têm em comum o acesso maciço à internet e às redes sociais através dos telefones celulares.
Mulheres
Já os eleitores que acessam apenas o Facebook são majoritariamente mulheres, acima de 45 anos. Essa é uma tendência mundial, apontada pela Pesquisa do Pew Research Center, divulgada em janeiro passado, segundo a qual, embora desde 2013 o crescimento do Facebook tenha se tornado mais lento, ele se caracteriza pela adesão crescente de usuários, principalmente mulheres acima de 65 anos.
Para Rosane Santana, exatamente por isso essa mídia social pode funcionar como uma plataforma alternativa para a participação dos eleitores de faixa etária mais alta, que foram aqueles que mais se expressaram politicamente durante as eleições presidenciais do ano passado..