Brasília – O governo começa mais um dia D para manter os vetos da pauta bomba do Congresso Nacional de hoje e que podem anular as medidas do novo ajuste fiscal, que prevê cortes de R$ 26 bilhões em gastos públicos. E as articulações para evitar aumento de R$ 127,8 bi nos gastos públicos até 2019 deverão ocorrer sob os olhos dos técnicos da Fitch Rating, que estarão em Brasília. Em agosto, a agência de classificação de risco rebaixou o país mas pode, a qualquer momento, seguir os mesmos passos da Standard & Poor’s e retirar o selo de bom pagador do Brasil.
Ontem, a presidente Dilma Rousseff teve uma agenda lotada com reuniões com representantes do governo e da base aliada enquanto negociava o corte ou a manutenção dos ministérios na reforma administrativa. Uma nova rodada deve se estender ao longo do dia de hoje até a abertura da sessão para avaliação dos 32 vetos no Congresso.
A dificuldade em conseguir um consenso na base aliada fez com que o governo partisse novamente para a estratégia de adiar a votação do Congresso. A sessão plenária para o início da análise dos vetos foi marcada para 19h. “Eles devem trabalhar mais uma vez com a ausência de quórum ao empurrar a sessão para a noite. Às 11h é o horário mais adequado, mas quando se prorroga, há atrasos e esvaziamento do plenário”, destacou o líder da minoria no Senado Álvaro Dias (PSDB-PR). “O governo tem maioria expressiva no Congresso e ele tem chance de manter o veto, mas, para isso, ele precisa conter as dissidências de qualquer maneira”, avisou. Ele disse acreditar que o governo terá dificuldade em manter os vetos do reajuste do Judiciário, que devem custar R$ 36,2 bi até 2019, porque haverá manifestações em frente ao Congresso.
Impasse
A presidente Dilma chamou o vice-presidente Michel Temer para uma conversa reservada na manhã de ontem, antes da reunião de sua coordenação política, para discutir a reforma administrativa, que deve ser anunciada pelo governo até amanhã. Dilma queria mostrar o mapa que deve cortar pelo menos 10 dos 39 ministérios e pedir a opinião de Temer. O vice aconselhou Dilma a não fazer a reforma ministerial agora para evitar desgaste e instabilidade no Congresso.
Sem base para impeachment
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto afirmou ontem que o impeachment da presidente Dilma Rousseff pode produzir insegurança jurídica no país. “Não se pode pular a cerca da Constituição”, disse, após uma palestra em São Paulo. Ayres Britto afirmou ainda que, a seu ver, “ainda não há motivos para o impeachment” de Dilma. Segundo ele, para que se configure um crime de responsabilidade é necessário provar uma afronta à Constituição. Ele ressalta, porém, que esse é um julgamento político.