A presidente Dilma Rousseff decidiu oferecer cinco ministérios ao PMDB para atrair o apoio da legenda, aprovar o ajuste fiscal e barrar um possível processo de impeachment. Para tanto, sacrificou uma das principais pastas do PT, a Saúde, o que gerou descontentamento no seu partido. Ministério com o maior orçamento da Esplanada, é comandado pelo PT desde o primeiro mandato de Dilma. Ele é ocupado atualmente por um afilhado do ex-presidente Lula, Arthur Chioro.
A opção da presidente foi acalmar o PMDB diante da crise política. Assim, o Palácio do Planalto ofereceu dois ministérios à bancada do partido na Câmara e dois aos parlamentares do Senado. Um quinto ministro seria indicado pelos peemedebistas das duas Casas.
Se esse novo arranjo for oficializado, o principal partido aliado e fiel da balança neste momento de crise política, deverá ficar com cinco ministérios na reforma - atualmente tem seis. Dilma manterá, pela cota do Senado, Kátia Abreu na Agricultura, que a partir de agora abrigará também o Ministério da Pesca. Além disso, Eduardo Braga continuará em Minas e Energia.
Pela Câmara, além da Saúde, o PMDB ganharia mais uma pasta a ser criada a partir da fusão de Portos com Aviação Civil. Essa pasta de infraestrutura teria à frente Eliseu Padilha, homem de confiança do vice-presidente Michel Temer, conforme sinalizou a presidente nas conversas de ontem.
Apesar disso, deputados apresentaram outros nomes para essa vaga, como José Priante (PA), primo do senador Jader Barbalho, Mauro Lopes (MG), Celso Pansera (RJ) e Newton Cardoso Júnior (MG).
Embora o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tenha dito que não indicaria ninguém, Pansera, um dos nomes lembrados pela bancada, é seu aliado. O deputado foi citado pelo doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, como "pau mandado de Cunha". Afilhado de Temer e de Cunha, Henrique Eduardo Alves, ex-presidente da Câmara, deve seguir no Turismo. Essa seria a indicação de consenso das duas Casas.
Petistas
Na tentativa de resistir, Arthur Chioro se reuniu no Palácio do Planalto com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Diante do mal-estar causado no PT com a notícia da mudança, um emissário de Dilma chegou a telefonar para Chioro, à tarde, para dizer que o governo precisava ceder o posto ao PMDB. A medida era necessária, segundo esse interlocutor, para manter o partido na base de sustentação no Congresso, dar sinais positivos ao mercado e "conter a alta do dólar". Chioro foi indicado pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, com as bênçãos de Lula. As informações sobre sua saída provocaram revolta no PT e nova divisão no PMDB.
Mesmo com a decisão do vice-presidente Michel Temer de não indicar ministros para a equipe de Dilma, o PMDB mostrou a divisão entre seus grupos. O líder na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), avisou que a bancada queria a Saúde. A partir daí, os articuladores políticos do Planalto começaram a negociar com ele a indicação do PMDB do Rio, em consórcio com deputados do partido em Minas.
O primeiro nome apresentado para ocupar o ministério foi o do deputado federal Saraiva Felipe (PMDB-MG), mas Dilma o vetou. Ontem à noite, o governo discutia os outros dois nomes indicados pelos deputados peemedebistas - Manoel Júnior (PB), aliado de Cunha, e Marcelo Castro (PI), que trocou acusações com o presidente da Câmara por causa da reforma política.
Coma s mudanças, o governo pretende organizar sua relação com o PMDB e depois partir para tentar reaglutinar outros partidos da base aliada. Os novos arranjos vão tratar de siglas como o PSD, do ministro Gilberto Kassab (Cidades), o PTB e o PP.
As mudanças têm no horizonte frear o avanço do impeachment no Congresso e aprovar o pacote fiscal que inclui, entre outros pontos, a volta da CPMF.