Os partidos que já se organizam para a disputa das eleições municipais do ano que vem têm tido dificuldades para encontrar nomes novos – gente que nunca disputou cargo eletivo – com bom potencial de votos para formar as chapas de candidatos a vereador. Essa dificuldade se deve ao desinteresse das chamadas “pessoas de bem” em entrar para a militância partidária, em função do desgaste vivido pelos ocupantes de cargos eletivos diante dos escândalos de corrupção, denúncias e prisões de figuras que já foram consideradas lideranças importantes na política nacional, envolvidos sobretudo tudo na Operação Lava-Jato, que apura desvios milionários na Petrobras.
“O que se percebe é uma desmotivação do cidadão comum em querer participar da vida política. Isso é consequência da descrença na política”, afirma o professor e cientista politico Antonio Gonçalves Maciel, do Departamento de Politica e Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ele cita os escândalos de corrupção como uma das causas do desinteresse. “Max Weber escreveu que a política deve ser praticada como vocação, uma atividade nobre, em que o interesse coletivo deve ficar acima dos interesses individuais. Mas, hoje, inverteram isso. Para muitos, a política virou profissão, em que predomina o interesse individual”, avalia.
Competitividade
O professor salienta ainda que há um “enfraquecimento” dos partidos. “A militância política de base perdeu força porque o processo político eleitoral é baseado num esquema de financiamento que nem todo mundo tem acesso. A pessoa tem que estar engajada em alguma estrutura de grupo para participar do processo com alguma competitividade. Quem não tem essa estrutura, está fora”, comenta Antonio Maciel. Ele ressalta que diante desse “desencanto”, os partidos politicos estão encontrando sérias dificuldades para formar chapas de candidatos a vereador em 2016. “A descrença no ideário coletivo leva à baixa formação de novas lideranças Isso aponta para a baixa renovação na representação nas câmaras municipais”, afirma Maciel. Ele ressalta que, dessa forma, a tendência é favorecer o conservadorismo, com os atuais vereadores tendo mais chances de conquistar novo mandato no pleito do próximo ano.
Na mesma linha, o cientista politico e professor Bruno Reis, do Departamento de Ciência Politica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressalta que a eleição tornou-se cara, o que afastou os “novatos” da disputa politica. “As pessoas intuem, com razão, que precisariam de muito dinheiro. Portanto, precisam se encaixar em pelo menos uma de quatro categorias: serem ricas, caírem nas graças de um financiador poderoso; serem escolhidas pela cúpula do seu partido como uma pessoa que ‘tem de ser eleita’ (caso em que os dirigentes repassariam os recursos necessários); ou então, serem famosas, caso em que precisariam de menos dinheiro para ser lembradas”, avalia Reis.
Na opinião dele, a “principal responsável por esse estado de coisas” é a lista aberta. “Dizem que a lista fechada oligarquizaria a eleição, mas as aparências enganam: nada favorece mais as cúpulas que o sistema atual, com sua multidão de candidatos anônimos e o controle dos fluxos de dinheiro pelos comitês financeiros dos partidos”, pontua. Para Bruno Reis, se tivéssemos lista fechada, o principal requisito para disputar um lugar na lista seria trabalho partidário. “Isso é algo que está ao alcance da militância. A disputa política interna nos partidos se intensificaria, e a renovação de quadros políticos se daria com maior naturalidade”, observa o cientista politico da UFMG.