A presidente Dilma Rousseff (PT) abriu nesta segunda-feira a 70ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Durante sua fala, ela ressaltou a necessidade de reestruturação da organização para que seja possível maior integração entre as nações. A presidente ainda destacou que problemas como o dos refugiados na Síria, de violência do estado islâmico, além de questões raciais e de gênero devem ganhar mais atenção do colegiado de países. Ainda sobre os refugiados, a presidente ainda destacou a postura do país relacionada de acolhimento. “Em um mundo onde circulam, livremente, mercadorias, capitais, informações e ideias, é absurdo impedir livre trânsito de pessoas. […] O Brasil é um país de acolhimento. Recebemos sírios, haitianos, homens e mulheres de todo o mundo”, afirmou sob aplausos.
Tradição na ONU, o discurso de abertura do congresso sempre fica por conta das autoridades brasileiras. Além dos assuntos de repercussão mundial, Dilma destacou boa parte de seu discurso a questões internas do país. Sobre economia, a presidente afirmou que o país passa por um momento de transição e que enfrenta problemas conjunturais, mas não estruturais, afetados por questões internas e também externas. “Hoje, a economia brasileira é mais forte, sólida e resiliente do que há alguns anos. Temos condições de superar as dificuldades”, disse.
A presidente reafirmou que vem tomando medidas para equilibrar o orçamento e reduzindo os gastos do orçamento e que nos últimos seis anos, o governo tentou barrar os efeitos da crise externa, mas o esforço agora “chegou no limite”. O que justificaria o ajustes e o corte das despensas para retomar o crescimento.
O tom de sua fala mostra uma mudança na forma como trata externamente a política econômica do Brasil. Dessa vez, ela adotou a mesma linha que já vem sendo seguida nos discursos internos, onde já chegou a admitir que houve equívocos na condução da economia.
Corrupção
A presidente Dilma Rousseff também disse que seu governo não compactua com corrupção. “O Governo e a sociedade brasileiros não toleram a corrupção. A democracia brasileira se fortalece quando a autoridade assume o limite da lei como o seu próprio limite”, afirmou. Para ela, os governantes devem seguir rigorosamente as atribuições, mas “sem ceder a excessos”.
Indiretamente, Dilma mandou recado aos juízes que atuam no âmbito da Operação Lava-Jato, que investiga desvios de recursos públicos para o pagamento de propina em contratos com a Petrobras. A presidente disse que o país deve garantir que os juízes julguem com imparcialidade, “sem o sabor das paixões partidárias”. Ela defendeu o direito a pensamentos contrários e citou José Mujica, ex-presidente do Uruguai, que defendeu a democracia, apesar dos defeitos e imperfeições que ela possa apresentar, mas, apesar disso, o processo democrático deve ser garantido.
"Queremos um país em que o confronto de ideias se dê em um ambiente de civilidade e respeito. Queremos um País em que a liberdade de imprensa seja um dos fundamentos do direito de opinião e a manifestação de posições diversas direito de todos os brasileiros", acrescentou.
Sobre a ONU
A presidente ressaltou que a ONU teve avanços importantes em seus 70 anos destacando que o processo de descolonização "apresentou notável evolução", bem como questões para tratar das mudanças climáticas o fim da pobreza e desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, "temas como desafios urbanos e as questões de gênero e raça ganharam prioridade", disse ela.
A ONU, porém, não conseguiu o mesmo êxito ao tratar de outros temas, como a segurança coletiva. "A multiplicação de conflitos regionais, alguns com alto potencial destrutivo, assim como a expansão do terrorismo, que mata homens, mulheres e crianças, destrói o patrimônio da humanidade, expulsa de suas comunidades seculares milhões de pessoas, mostram que a ONU está diante de um grande desafio."
A presidente do Brasil defendeu a reforma "abrangente" do Conselho de Segurança, com ampliação de seus membros permanentes e não permanentes. Ao longo do final de semana em Nova York, Dilma tocou no tema e se reuniu com Alemanha, Japão e Índia, que junto com o Brasil, foram o G-4, grupo criado especialmente para pedir reformas no Conselho. "Para dar às Nações Unidas a centralidade que lhe corresponde, é fundamental uma reforma abrangente de suas estruturas."
A reforma da ONU, afirmou Dilma, é essencial para criar uma instituição mais forte, que lide com crescentes problemas da economia mundial. Ela mencionou o terrorismo e conflitos armados que produzem outro problema, os refugiados. "Não se pode ter complacência com tais atos de barbárie, como aqueles perpetrados pelo Estado Islâmico e outros grupos associados", disse, mencionando o menino sírio encontrado morto em uma praia na Turquia e as 71 pessoas asfixiadas em um caminhão na Áustria.
Com Agência Estado