Genebra - O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) usou o mesmo banco que foi utilizado pelos ex-diretores da Petrobras para desviar milhões de dólares em propinas. Fontes próximas à investigação confirmaram que a instituição usada por Cunha foi o Julius Baer, que também teve como clientes o ex-gerente Executivo de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco, além de Renato Duque e Jorge Zelada.
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Procurador diz que dados da Suíça vão embasar decisão sobre denúncia contra CunhaSTF nega pedido de Cunha para tirar ação da Lava Jato de MoroDeputados entregam representação contra Cunha na Corregedoria da CâmaraConta em nome da mulher de Cunha banca gastos de US$ 1 milhão no exteriorCerco se fecha contra Eduardo CunhaCunha prevê trâmite lento no Congresso para apreciação das contas de DilmaSegundo o jornal Folha de S. Paulo, o valor congelado teria sido de US$ 2,4 milhões. Procurado, o Ministério Público da Suíça não comentou a informação. Pessoas próximas ao processo também indicaram que as contas chegaram a ter perto de US$ 5 milhões e a suspeita em Brasília é de que Cunha possa ter outras contas no exterior.
Investigadores, porém, apontam que o esquema usado por Cunha se assemelha ao de outros envolvidos na Operação Lava-Jato. Quem também era cliente do Julius Baer era o ex-gerente Executivo de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco.
Em 2013, Barusco abriu uma conta em nome de uma empresa de fachada, a Canyon Biew, no banco RBC da Suíça e transferiu do Julius Baer cerca de US$ 7,1 milhões.
No caso de Cunha, ele abriu empresas de fachada e aparecia apenas como "beneficiário" desses depósitos, ao lado da esposa.
Barusco ainda indicou que, para a abertura das contas na Suíça, utilizou os serviços do mesmo intermediário que ajudou Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras e que tem US$ 23 milhões bloqueados nos bancos suíços. O intermediário era Bernardo Friburghaus, com escritórios no Rio de Janeiro e que desde a eclosão da operação se mudou para Genebra.
Os ex-diretores da petroleira Renato Duque e Jorge Zelada também contrataram o banco Julius Baer para investir propina recebida de fornecedores da Petrobras em Mônaco e na Suíça.
Investigação
No Brasil, o Julius Baer é mencionado em investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em inquérito de lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e sonegação fiscal envolvendo uma empresa controlada pela instituição no Brasil.
A suspeita é que GPS Investimentos Financeiros, comprada pelo banco entre 2010 e 2014, estaria facilitando a evasão de divisas de clientes brasileiros para paraísos fiscais como Ilhas Jersey, Mônaco e Suíça. A denúncia sob investigação é de que esses "recursos depositados no exterior e não declarados às autoridades competentes seriam provenientes de sonegação fiscal (caixa dois) e estariam sendo enviados pelo grupo empresarial GPS Planejamento Financeiro."
O Julius Bär é hoje o maior private bank independente da Suíça, com mais de 120 anos de atividade. A instituição atua aplicando o dinheiro dos clientes em outras instituições financeiras, comprando bens de valor, como joias e obras de arte, entre outros. No total, o banco administra fortunas no valor de US$ 372 bilhões e conta com escritórios em Genebra, Hong Kong, Montevidéu, Mônaco, Lugano, Cingapura e Dubai. As investigações sobre as atividades da GPS, contudo, não tem relação com a Lava Jato.
Em nota, o Julius Baer informou que "a GPS é regulada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e sob nenhuma circunstância apoia lavagem de dinheiro ou evasão de divisas, seguindo estritos padrões de compliance com todos seus clientes." Conforme o banco, a GPS "não é corretora nem casa de câmbio e não faz nada em desacordo com a Receita Federal.".