Jornal Estado de Minas

Avanço da Lava-Jato sobre Cunha gera sucessão silenciosa


Brasília – O avanço da Operação Lava-Jato sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a comprovação de que ele movimentou R$ 32 milhões em quatro contas na Suíça abriram uma disputa silenciosa, e ainda tímida, pela sucessão do parlamentar no comando da Casa. O parlamentar nega a posse de dinheiro e empresas offshore no exterior, mas, com a situação fragilizada, vê os avanços de adversários e até de aliados interessados no posto – o segundo na sucessão presidencial. Os favoritos para ocupar a cadeira, caso Cunha não resista, são nomes do próprio PMDB, mas há alternativas tidas como mais consensuais em partidos menores, como o PROS. Nomes da oposição e independentes também cogitam posicionar-se na disputa.

Nesta terça-feira, o PSOL apresenta o pedido de abertura de processo no Conselho de Ética com o objetivo de cassar o mandato de Cunha. Pela primeira vez, o deputado desembarcará em Brasília sem o apoio da oposição. O resultado das movimentações para suceder Cunha, porém, dependerá do que vai acontecer nas primeiras horas desta terça-feira, avaliaram parlamentares ouvidos pelo Estado de Minas.

Para Ivan Valente (PSOL-SP) e uma fonte ligada à Mesa Diretora, um nome com viabilidade deveria reunir duas características: ser do PMDB e ter bom trânsito entre os colegas. O PT tende a apoiar a escolha peemedebista, depois de ver o quanto foram amargas as derrotas por tentar se opor a Cunha na eleição passada. Mas identificar esse quadro na legenda de Michel Temer não é algo simples.

O líder dos peemedebistas na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), se desgastou com a base ao assumir uma posição extremamente governista, avaliam os colegas de dentro e de fora do partido.
Ele também queimou a largada ao se dizer pronto para ocupar a Presidência da Casa, durante entrevista. O parlamentar pediu cautela em relação ao pedido de cassação de Cunha e ao de Dilma. “Ele (Cunha) tem dito que continuará no cargo”, lembrou Picciani, ontem à tarde. “A bancada defende o contraditório e o princípio da ampla defesa.” O líder afirma que a substituição de Cunha não é discutida oficialmente, mas há apenas “conversas esparsas”.

Experiência

Primeiro nome na sucessão de Cunha, o vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), tem contra si o fato de ser mais um integrante da Mesa Diretora envolvido na Lava-Jato. Segundo Valente, ainda falta a ele experiência com o Regimento Interno da Câmara para conduzir as sessões em período tão conturbado. “Ele não consegue dirigir uma sessão: teve uma do Congresso Nacional em que ele se enrolou todo”, narrou. Outra possibilidade seria Lelo Coimbra (ES).
O parlamentar cresceu na bolsa de apostas dos colegas, mas despista ao tratar do tema. Jarbas Vasconcelos (PE) é bem quisto pela oposição, mas avalia-se não ter todo o apoio necessário, especialmente na base governista.

Fora do PMDB, as possibilidades giram em torno de Miro Teixeira (Rede-RJ). Por pertencer a um partido independente e ser o parlamentar mais experiente em atividade na Câmara, com 11 mandatos, ele poderia agradar governistas e oposicionistas, e ainda ter o respaldo do tempo de Casa. 

 

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