Brasília – As pressões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT para tirar Joaquim Levy do do Ministério da Fazenda e a presença dele na reunião da presidente Dilma Rousseff com a Junta Orçamentária geraram uma série de boatos durante todo o dia ontem, inclusive de que ele entregaria uma carta de demissão. Além das dificuldades para aprovar o ajuste fiscal no Congresso, até entre petistas e aliados, Levy vem sendo bombardeado pelo próprio Lula, que, segundo conversas de bastidores, quer emplacar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles no cargo. O mercado também teve um dia tumultuado pelos boatos, que só foram desmentidos após o término da reunião da presidente, que já iria se reunir com a Junta Orçamentária, composta por Levy e pelos ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e da Casa Civil, Jacques Wagner, marcada para as 15h de ontem, no Palácio da Alvorada, para a definição da nova meta fiscal.
As notícias truncadas ao longo do dia acabaram com o bom humor da véspera por causa do rebaixamento do país pela Fitch Ratings, que ainda manteve o grau de investimento dos títulos soberanos brasileiros, agora a apenas uma nota para perder o selo de bom pagador. Em meio às dúvidas se o chefe da equipe econômica permaneceria após nova investida de Lula para demovê-lo no cargo e de notícias de que o ministro teria até escrito uma carta de demissão para entregar a Dilma durante a reunião da Junta, o dólar subiu 1,92%, depois de ter caído 0,32% no dia anterior. A Bolsa de Valores de São Paulo oscilou ao longo da sexta-feira, mas fechou com alta de apenas 0,16%, dada a instabilidade no rumo da economia do país.
“Ele não pediu demissão. Não existe carta. O ministro continua trabalhando e se esforçando pelo futuro do país”, informou a assessoria de imprensa da Fazenda, por volta das 19h. No entanto, fontes palacianas contam que Levy só não saiu ainda porque Dilma não conseguiu encontrar um substituto.
Com isso, a bolsa das apostas de substitutos para Levy foi reaberta. O nome que vem sendo defendido por Lula é o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, mas ele que tem poucas chances de assumir o cargo com Dilma no poder porque os dois não se bicam, segundo fontes próximas à presidente. Outro sem muitas possibilidades é o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que é descartado por analistas nacionais e internacionais por ser desenvolvimentista como a presidente e por ser um dos principais obstáculos para o sucesso de Levy na condução do ajuste fiscal. Com a falta de nomes de peso dentro do PT, surge o do diretor do Banco Central, Tony Volpon, um economista respeitadíssimo no mercado e que poderia dar uma arejada na desgastada imagem de Levy, que, pelas palavras de Lula em um jantar na última quinta-feira com Dilma, “teria perdido o prazo de validade”.
O ex-presidente ainda defendeu um afrouxamento do ajuste fiscal, um dos motivos da reunião da Junta Orçamentária ontem, que está estudando uma nova revisão na meta de superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de 2015. Em agosto, o governo reduziu a meta de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB), mas essa mudança ainda não aprovada pela Comissão Mista de Orçamento (CMO), mas com abatimento de R$ 24,6 bilhões pode se tornar um deficit de 0,30% do PIB. Enquanto isso, economistas do mercado calculam um rombo de 0,3% a 0,8% nas contas deste ano.
“O ministro Levy deveria pedir demissão. A coisa mais absurda foi ele virar político e negociar com o Congresso o ajuste fiscal, que não conseguiu implementar do jeito que queria desde que assumiu”, comentou o economista Alexandre Cabral, da NeoValue. Para ele, Volpon seria um bom nome, mas “ele não é político”. Ele lembrou que, na última quarta-feira, em audiência pública no Congresso, Levy voltou a defender a CPMF escuta que não terá apoio no Congresso para aprovála. Com isso, será bastante difícil para o governo para conseguir fechar as contas. Pelas estimativas de técnicos o governo, o rombo nas contas deste ano gira em torno de R$ 60 bilhões sem a CPMF no ano que vem.
Proposta é zerar pedaladas
Brasília – Horas antes de embarcar para a Europa, onde cumprirá agenda nos próximos dias, a presidente Dilma Rousseff chamou na tarde de ontem, ao Palácio da Alvorada, os ministros da chamada Junta Orçamentária do governo: Jaques Wagner, da Casa Civil; Joaquim Levy, da Fazenda; e Nelson Barbosa, do Planejamento.
Para manter o superávit anterior, seriam necessárias algumas receitas que não se confirmaram, inclusive a que seria obtida com a aprovação do projeto de repatriação de recursos legais de brasileiros no exterior. A matéria nem sequer foi votada pelo Congresso Nacional.
Na quinta-feira, Wagner, Levy e Barbosa passaram cerca de duas horas reunidos no gabinete da Casa Civil, no quarto andar do Palácio do Planalto. Os três deixaram a reunião sem falar com a imprensa. Wagner, porém, disse rapidamente que eles haviam tratado do Orçamento deste ano.
Esperava-se que na reunião de ontem eles apresentassem à presidente a proposta de pagar todos os passivos das pedaladas fiscais – cerca de R$ 40 bilhões – ainda em 2015. Além disto, os ministros levariam á reunião as novas projeções para o Orçamento da União deste ano, que indicam que há risco de ser registrado um déficit primário superior a R$ 20 bilhões. Ou seja, se todos os passivos das pedaladas forem pagos ainda neste ano, o déficit orçamentário em 2015 pode superar R$ 60 bilhões.
A opção por um déficit maior segue a estratégia de priorizar a obtenção de um superávit (receitas maiores que despesas) no próximo ano, já que, para 2015, praticamente não há mais chances de cumprir a economia prometida. Caso decida propor um rombo maior neste ano, o governo assumirá o compromisso de fazer o que for possível para cumprir o superávit de 2016 – de 0,7% do PIB.
Também na quinta-feira, a agência de risco de Fitch rebaixar a nota do Brasil de “BBB” para “BBB-”. A perspectiva foi mantida em negativa, o que significa que o país pode voltar a ser rebaixado em um futuro próximo. A nota “BBB-” é a última dentro do chamado grau de investimento, espécie de selo de país bom pagador de sua divida.
Viagem Dilma embarcaria na noite de ontem para a Escandinávia, no Norte da Europa, com o objetivo de ampliar a cooperação comercial do Brasil com a Suécia e a Finlândia, informou o Ministério das Relações Exteriores. Como tem feito em viagens ao exterior, Dilma terá encontros com empresários brasileiros dispostos a abrir negócios no país europeu e se reunirá com investidores suecos a fim de apresentar a eles oportunidades no Brasil..