No comando do Ministério da Fazenda desde janeiro, Joaquim Levy assumiu o cargo prometendo o equilíbrio da economia. Quase 10 meses depois, sem obter consenso entre o próprio governo e cercado de boatos sobre sua saída, o economista ainda tenta alavancar seu ajuste fiscal, mas, com atuação limitada, traz no balanço à frente da pasta indicadores pouco favoráveis, como a alta da inflação, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) e o dólar nas alturas. De janeiro – mês em que Levy se tornou ministro – para cá, o dólar disparou de R$ 2,70 para R$ 3,90, cotação da venda da moeda nessa segunda-feira (19). Já o PIB, total de riquezas produzidas pelo país, vem retraindo e recuou 1,9% no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores. Trata-se da maior retração desde o primeiro trimestre de 2009, quando a economia também registrou o mesmo recuo.
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Kátia Abreu defende Levy e diz que ele faz o que 'economista responsável faria'Falcão diz que não se sentiu desautorizado pela fala de Dilma sobre LevyDilma reage às pressões de Lula e do PT e afirma que Levy fica na FazendaLula diz, em entrevista na BA, que seria desleal pedir o afastamento de LevyNessa segunda-feira, o presidente do PT, Rui Falcão, voltou a reforçar que a posição do partido em torno das medidas para equilibrar a economia divergem do governo. No domingo, a presidente Dilma Rousseff precisou defender, mais uma vez, a permanência de Levy no cargo, depois de Falcão criticar a política econômica e falar sobre a necessidade de o ministro da Fazenda deixar a pasta. “Ela ressaltou bem que era a opinião dela, a opinião do governo, e a minha opinião, a do PT. E que é natural, é legítimo eu externar minhas opiniões, principalmente porque é um país democrático”, disse Falcão. E o petista defendeu novamente mudança nas medidas de ajuste fiscal: “Não sei qual é o prazo que eles (governo) previram para durar. Eu acho que precisava mudar”.
Em meio às pressões em torno de sua permanência, Levy ganhou apoio nessa segunda-feira da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que, no Twitter, escreveu que o ministro está aplicando “a receita padrão que qualquer economista responsável faria”. Kátia também acenou ao Congresso e disse que o Parlamento está fazendo sua parte no ajuste.
AJUSTE PARADO “Joaquim Levy tem um discurso que se coaduna com o que mercado financeiro quer ouvir. Mas a proposta não foi levada a cabo em função dessa dimensão política”, afirma o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marco Flávio Resende, para quem não é possível fazer ajuste fiscal quando a economia está em crise. “O próprio anúncio do ajuste já aumentou o pessimismo e reduziu a confiança do empresariado, que prefere esperar para investir”, explica.
Na avaliação do cientista político Antônio Flávio Testa, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), o racha na própria base aliada no Congresso está travando a aprovação das medidas do ajuste fiscal de Levy. “Num primeiro momento, o PT quis o Levy, mas, quando o ajuste fiscal chegou, o partido começou a mostrar suas divisões e ver que a política de aumento de impostos não atenderia suas demandas em véspera de ano eleitoral nos municípios”, afirma. Segundo o pesquisador, a possibilidade de atuação de Levy se esgotou.
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