Jornal Estado de Minas

Ministro Joaquim Levy virou problema para o governo Dilma


No comando do Ministério da Fazenda desde janeiro, Joaquim Levy assumiu o cargo prometendo o equilíbrio da economia. Quase 10 meses depois, sem obter consenso entre o próprio governo e cercado de boatos sobre sua saída, o economista ainda tenta alavancar seu ajuste fiscal, mas, com atuação limitada, traz no balanço à frente da pasta indicadores pouco favoráveis, como a alta da inflação, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) e o dólar nas alturas. De janeiro – mês em que Levy se tornou ministro – para cá, o dólar disparou de R$ 2,70 para R$ 3,90, cotação da venda da moeda nessa segunda-feira (19). Já o PIB, total de riquezas produzidas pelo país, vem retraindo e recuou 1,9% no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores. Trata-se da maior retração desde o primeiro trimestre de 2009, quando a economia também registrou o mesmo recuo.

Entre janeiro e setembro, a inflação acumula alta de 7,64%. É a maior do período desde 2003, quando atingiu 8,05%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística´(IBGE). Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula avanço de 9,49%, menor do que a verificada nos 12 meses até agosto, de 9,53%, mas muito além do teto da meta, de 6,5%. O ajuste fiscal proposto pelo governo, que engatinha e tem parte das propostas paradas para aprovação no Congresso, prevê o corte de gastos e a criação de receitas, como o retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
O governo também anunciou medidas para diminuir o gasto tributário, reduzindo ou retirando benefícios fiscais de empresas, entre outras ações.

Nessa segunda-feira, o presidente do PT, Rui Falcão, voltou a reforçar que a posição do partido em torno das medidas para equilibrar a economia divergem do governo. No domingo, a presidente Dilma Rousseff  precisou defender, mais uma vez, a permanência de Levy no cargo, depois de Falcão criticar a política econômica e falar sobre a necessidade de o ministro da Fazenda deixar a pasta. “Ela ressaltou bem que era a opinião dela, a opinião do governo, e a minha opinião, a do PT. E que é natural, é legítimo eu externar minhas opiniões, principalmente porque é um país democrático”, disse Falcão. E o petista defendeu novamente mudança nas medidas de ajuste fiscal: “Não sei qual é o prazo que eles (governo) previram para durar. Eu acho que precisava mudar”.

Em meio às pressões em torno de sua permanência, Levy ganhou apoio nessa segunda-feira da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que, no Twitter, escreveu que o ministro está aplicando “a receita padrão que qualquer economista responsável faria”. Kátia também acenou ao Congresso e disse que o Parlamento está fazendo sua parte no ajuste.
“Um país não sai de uma crise num passe de mágica ou em 10 meses. Tudo está sendo feito para colher efeito positivo em médio prazo”, observou. “Há opiniões que divergem da minha e eu respeito, mas temos que ter paciência e confiar. Não dá para fazer ajustes apenas aumentando receita”, afirmou.

AJUSTE PARADO
“Joaquim Levy tem um discurso que se coaduna com o que mercado financeiro quer ouvir. Mas a proposta não foi levada a cabo em função dessa dimensão política”, afirma o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marco Flávio Resende, para quem não é possível fazer ajuste fiscal quando a economia está em crise. “O próprio anúncio do ajuste já aumentou o pessimismo e reduziu a confiança do empresariado, que prefere esperar para investir”, explica.

Na avaliação do cientista político Antônio Flávio Testa, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), o racha na própria base aliada no Congresso está travando a aprovação das medidas do ajuste fiscal de Levy. “Num primeiro momento, o PT quis o Levy, mas, quando o ajuste fiscal chegou, o partido começou a mostrar suas divisões e ver que a política de aumento de impostos não atenderia suas demandas em véspera de ano eleitoral nos municípios”, afirma. Segundo o pesquisador, a possibilidade de atuação de Levy se esgotou.

 

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