São Paulo, 23 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sua sucessora, Dilma Rousseff, foi obrigada pelas circunstâncias a fazer o ajuste fiscal mesmo depois de ter dito, durante a campanha, que ajuste era "coisa de tucano". "Dilma dizia que ajuste era coisa de tucano e que ela não ia mexer nos direitos dos trabalhadores. E ela foi obrigada pelas circunstâncias políticas a ter que fazer um ajuste", disse Lula, em entrevista a uma rádio.
"A Dilma foi obrigada a manter uma política de subsídio muito importante para garantir o emprego e uma política de desoneração muito grande que foi feita neste País, pra gente poder manter as indústrias funcionando, a economia funcionando e geração de emprego. Chegou no fim do ano, você foi fazer o balanço e percebe que a despesa está um pouco maior do que a receita, então, você é obrigado a parar por uma questão de responsabilidade e a Dilma parou", justificou Lula.
O petista disse que a oposição se aproveitou desse quadro, em que Dilma foi "obrigada" a contrariar suas promessas de campanha, para acusá-la de "estelionato eleitoral". "Depois que Dilma fez o ajuste, os adversários começaram a trabalhar na sociedade essa história de estelionato eleitoral e de trair os trabalhadores", afirmou. E repetiu que as chamadas "pedaladas fiscais" foram usadas por Dilma para garantir a manutenção de programas sociais, como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida.
Apesar de ter dito na entrevista que não aconselhou Dilma a trocar Joaquim Levy por Henrique Meirelles na Fazenda, Lula voltou a defender que o País precisa incentivar o consumo para sair da crise econômica. "Vamos à luta, não dá pra ficar parado. Por que eu tenho muita fé no Brasil? Porque nós temos um mercado interno extraordinário, são 200 milhões de seres humanos dispostos ainda a fazer compras.
Lula disse que voltou a circular pelo País para levar uma mensagem de otimismo. Segundo ele, é preciso "levantar a moral da tropa". "Não há nenhuma razão pra gente não acreditar que amanhã vai ser melhor que hoje. Se todo mundo levantar com pessimismo, azedume, a energia leva o País pra baixo. Temos que levantar esse País", concluiu.
'Galego'
O ex-presidente disse ainda que, ao contrário do que se pensa, sua sucessora Dilma Rousseff, gosta de política. Ele ponderou, contudo, que Dilma e seu antigo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante - agora na Educação -, têm estilos parecidos.
"A Dilma gosta de política, diferentemente do que se fala, ela gosta. Agora, ela tem o seu estilo.
Lula traçou um paralelo do jeito dele e de Wagner de fazer política, que considera diferente do jeito de Dilma e Mercadante. Apesar de o ex-presidente não admitir abertamente, Wagner foi alçado à Casa Civil na reforma ministerial por sugestão dele. Para Lula, eles dois gostam mais de "conversar". Ele ilustrou com o exemplo de quando uma pessoa conta a ele uma piada que já ouviu. "Se o cara está contando uma piada pela 15ª vez e pergunta 'ô presidente, já ouviu essa', eu digo 'não, pode contar meu filho' e faço um esforço desgraçado para dar um sorriso.
O ex-presidente não disse diretamente que Dilma tem dificuldade de dialogar no fazer político, mas disse que o "Galego" (Wagner) vai ajudá-la na Casa Civil, assim como Mercadante vai ajudar na Educação.
"Cada um tem o seu estilo e você conhece bem o Galego (Wagner), tem aquele jeitão, uma mistura de carioca e baiano, jeitoso pra conversar, muito sério também - não é menos sério que a Dilma e que o Aloizio Mercadante -, mas ele tem aquela baianidade, aquele balanço na cintura que nem todo mundo tem", afirmou.
Lula disse ainda que Dilma veio aprendendo a fazer política, pois é "jeitosa". "Obviamente que eu tenho um carinho profundo, um respeito profundo, uma admiração profunda (pela Dilma). E, mesmo quando eu não concordo com alguma coisa, eu tenho que respeitar que é o jeito dela. Mesmo na discordância eu sou um apoiador da companheira Dilma.".