Jornal Estado de Minas

Pizzolato está de volta e a corrupção continua

A prisão do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato encerra uma caça da Polícia Federal que começou há quase dois anos, em novembro de 2013. De lá para cá, muita coisa mudou na política e na economia do país – o governo Dilma Rousseff (PT) tinha 54% de aprovação, hoje tem menos de 10%; a inflação batia na casa dos 5,7%, hoje passa dos 9,5% –, mas a corrupção e os desvios de recursos públicos, como aconteceu no escândalo do mensalão, continuam nos mesmos patamares de antes. Ou pior. Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que, de novembro de 2013 até agora, a Polícia Federal descobriu que mais R$ 48,7 bilhões – R$ 19 bilhões somente da Operação Lava-Jato – deixaram os cofres públicos em razão das mais diferentes fraudes em todas as áreas da administração federal, estadual ou municipal.


No atual quadro, o escândalo do mensalão – revelado em 2006 e que teria desviado cerca de R$ 170 milhões para pagamento de propinas a parlamentares em troca da aprovação de projetos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – parece mais “um trocado”. E Pizzolato, que ao chegar ao Brasil ontem foi vaiado, pode ser considerado um coadjuvante, se comparado aos figurões do escândalo da Petrobras. Somente o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), denunciado criminalmente por ter engordado sua conta bancária com recursos da petrolífera, teria se beneficiado com US$ 5 milhões de propinas de contratos assinados com empreiteiras. Antes de ser condenado a mais de 12 anos de prisão, a acusação que peca contra o ex-dirigente do BB é ter recebido R$ 336 mil de propina, depois de liberar R$ 73,8 milhões da Visanet para reforçar o caixa das propinas.

Exemplo Na verdade, a conclusão do julgamento do escândalo do mensalão, que terminou com 21 condenados à pena de prisão – entre eles figuras de destaques da política nacional, como o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, o ex-presidente do PT, José Genoíno, o deputado federal e então presidente do PTB, Roberto Jefferson –, não produziu o efeito esperado, de inibir novas bocadas sobre o já combalido cofre público. Basta analisar as milhares de operação que a PF produziu para tentar fechar a torneira dos desvios, mesmo depois das condenações dos mensaleiros.
Em uma única delas, um grupo de empresários de São Paulo conseguiu montar um esquema de evasão de divisas e sonegação de impostos que significou uma desfalque de R$ 1,6 bilhão na arrecadação federal.

A corrupção endêmica no país fica evidente também diante da análise de outros números. Enquanto o mensalão teve 25 réus, até agora, a Operação Lava-Jato – que devassa contratos e pagamento de propinas por contratos da Petrobras – já tem 143 pessoas denunciadas criminalmente. A reincidência na corrupção tem rosto definido hoje, de acordo com a investigação da PF e Procuradoria da República: o ex-todo-poderoso do governo Lula, José Dirceu, voltou para a prisão, mesmo antes de concluir o cumprimento de sua pena no mensalão. Quando já estava em regime aberto, com direito a trabalho, ele foi novamente acusado de ter se beneficiado do esquema de propina, desta vez, da Petrobras. Outros mensaleiros também seguiram o mesmo caminho, sem considerar parlamentares, prefeitos e políticos, que acumulam processos, paralisados nas prateleiras do Supremo Tribunal Federal. (colaboraram Flávia Ayer, Vera Schmitz e Marcelo Fonseca)

 

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