Brasília – Cada vez mais enredado nas denúncias de corrupção na Petrobras e emparedado por parte dos deputados que defendem sua renúncia do cargo de presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tenta ganhar tempo no cerco que sofre para ver se novos políticos caem na malha fina do Ministério Público e do governo federal. Na verdade, o alvo preferencial é um só: o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Se surgirem denúncias fortes contra o peemedebista alagoano, Cunha cobrará do PT e do Planalto que também pressionem Renan a renunciar à presidência do Senado. “Se isso não acontecer, dirá que está sendo vítima por ser algoz da presidente”, reconheceu um petista.
Renan também está na mira da Polícia Federal, mas, contra ele, neste momento, pesam menos evidências do que contra o presidente da Câmara. Cunha está sendo investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostas cobranças de propina relativas à exploração de metade de um campo de petróleo em Benin, na África, e na compra de dois navios-sondas pelo estaleiro Samsung. Já Renan está, também no STF, em um inquérito com mais 10 réus suspeitos de envolvimento no escândalo da Petrobrass e, em outro, é apontado como ter utilizado o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) como intermediário para cobrar propinas da estatal.
“Não é de hoje que Cunha tenta atrair Renan e outras pessoas para a mesma vala na qual ele se encontra. É uma estratégia arriscada, ainda mais se levarmos em conta que a inabilidade política dele (Cunha) é bem mais notória do que a de Renan”, disse um governista. O presidente do Senado já deu provas mais do que suficientes de resiliência diante de momentos de crise. Em 2007, por exemplo, quando quase perdeu o mandato com a denúncia de ter tido despesas pessoais pagas pelo dono de uma empreiteira, o peemedebista alagoano abandonou o cargo de presidente do Senado e, em troca, preservou o mandato de senador. Cunha já disse que não renunciará à presidência da Câmara.
‘Amigo do Lula’
O empresário e pecuarista José Carlos Bumlai, apontado na Operação Lava-Jato como ‘o amigo do Lula’, admitiu, em entrevista ao site do jornal O Estado de S. Paulo, que levou o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, um dos delatores da Lava-Jato, para falar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou, no entanto, que não repassou R$ 2 milhões para que uma nora do ex-presidente quitasse dívida de imóvel. Ontem, Lula visitou a feira do Movimento dos Sem Terra (MST), em São Paulo. Ele se reuniu com integrantes da direção nacional do MST e manifestou irritação com as citações a nomes de seus familiares na Lava-Jato. “Ele falou que está muito irritado porque são inverdades”, disse João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. Questionado sobre as denúncias envolvendo Bumlai, Lula desconversou. “Hoje é sábado, eu sou muçulmano e sábado eu não falo de política”, disse, confundindo-se com os judeus, que não trabalham no shabat, que vai do pôr do sol de sexta-feira ao anoitecer de sábado.