Os principais líderes do PMDB assumiram ontem, mais uma vez, uma postura de espectadores da crise política e econômica, como se não integrassem o governo federal e vários de seus nomes, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), não contribuíssem para aprofundá-la. Depois de reiterar que o PMDB lançará em novembro “um programa escrito” para que “guie” e “reunifique” o país, o vice-presidente da República e presidente nacional do partido, Michel Temer, declarou ontem, durante convenção estadual da legenda, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte, que o PMDB é fundamental na solução de crises porque representa o que chamou de “um certo equilíbrio e moderação”.
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'PMDB representa equilíbrio para o país', diz Michel Temer em passagem por BHTemer diz que PMDB é fundamental na solução da criseTemer participa de convenção para reeleger Antônio Andrade como presidente do PMDB em MinasFernando Haddad, prefeito de São Paulo, diz que fica no PT 'com orgulho'Um em cada três deputados do Conselho de Ética é alvo de inquéritos no STFBancada do PMDB no Senado quer retirar Temer do comando do partido“O que nos falta é exatamente essa ideia de que temos de reunificar o país, temos de pacificar o país, temos de ter harmonia para o país. Temos de acabar com eventuais divergências entre brasileiros, temos de unir todos, pois, entre o partido político, o governo e o país, o maior valor é o país. O PMDB está atento a isso”, assinalou Temer em seu discurso. Pela manhã, ele havia participado, em São Paulo, da convenção estadual do PMDB, onde foi diversas vezes enaltecido como o nome que vai conduzir a reunificação do país. “Nos últimos 50 anos, vivenciamos muitas crises. Mas, em todas elas, o PMDB foi fundamental para tirar o país dessas crises”, afirmou.
No mesmo tom, e enfatizando o que considerou a capacidade histórica do PMDB de trilhar o caminho que seria da “unidade”, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, ex-ministro da Secretaria da Aviação Civil, afirmou, em Belo Horizonte, que o PMDB jamais faltou ao país nos momentos difíceis. “Neste momento, nosso partido é obrigado, mais uma vez, a responder aos anseios, esperanças e inquietações do povo brasileiro.
Segundo Moreira Franco, o PMDB tem militância independente, que, em vários momentos, abre dissidência, critica. “O PMDB não tem dono, tem voz”, destacou, acrescentando que neste momento em que conquistas brasileiras estão sendo “ameaçadas”, a legenda buscou na militância debater um plano para tirar o Brasil da crise, que será apresentado em 17 de novembro, em Brasília, durante o Congresso da Fundação Ulysses Guimarães. “Vamos aprovar o programa para tirar o Brasil da crise e apresentar à sociedade um caminho que faça o país crescer, gerar renda, garantir um ambiente de negócios. Vamos oferecer, como no passado, alternativas que nos levem ao crescimento”, declarou o ex-ministro.
RECADO
Michel Temer participou em Belo Horizonte da convenção estadual do PMDB, que reconduziu para um mandato de mais dois anos o vice-governador de Minas, Antônio Andrade, ao comando da legenda no estado. Sem fazer críticas diretas ao distanciamento do partido na relação com o Planalto, o governador Fernando Pimentel (PT) ressaltou, em seu discurso, a unidade do PMDB de Minas, construída a partir de 2013 por articulação pessoal com o apoio de Temer. E deu o recado: o PMDB, ao lado do PT, é governo em Minas.
OPOSIÇÃO
Não é a primeira vez que o PMDB tenta se distanciar do governo federal publicamente, embora tenha sido agraciado com sete ministérios pela presidente Dilma Rousseff no novo desenho da Esplanada – o partido está à frente das pastas da Saúde, Minas e Energia, Agricultura, Turismo, Aviação Civil, Ciência e Tecnologia e dos Portos. Em programa em cadeia de rádio e TV, que foi ao ar em 26 de setembro, o PMDB adotou um discurso de oposição ao governo e, sob o mote da “reunificação dos sonhos”, procurou se apresentar como uma alternativa de poder.
Parte da cúpula do PMDB tinha como prazo para definir o desembarque, ou não, do governo o mês de novembro, quando está previsto um encontro da legenda em Brasília. Com o novo arranjo da Esplanada, porém, o calendário para uma possível debandada foi empurrado para março, quando haverá a convenção nacional do PMDB. Na ocasião, serão eleitos os integrantes da direção e da Executiva Nacional responsáveis por conduzir a legenda nas próximas eleições municipais, em 2016, e presidencial, em 2018.
Integrantes de diversos setores do PMDB não descartam que o encontro de novembro sirva de palanque para ataques contra o governo Dilma. “Vai ter gente que vai defender o rompimento, mas é natural”, declarou Moreira Franco.
(Com agências) .