O governo está agindo nos bastidores para ganhar tempo e impedir que o PT vote pela cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética da Casa. Na avaliação do Palácio do Planalto, é provável que, com o agravamento das denúncias, Cunha seja obrigado a deixar o comando da Câmara antes mesmo da instauração do processo interno contra ele, cujo relator deve ser escolhido no início de novembro.
O caso Cunha e o coro contrário ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometem agitar as reuniões da Executiva e do Diretório Nacional do PT, nesta semana, em Brasília. Nos dois capítulos, os movimentos do Planalto e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que vai participar do encontro da cúpula do partido, na quinta-feira - indicam um recuo estratégico, ao menos por enquanto.
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Lentidão da agenda fiscal no Congresso dificulta reequilíbrio de contas em 2015Governo está novamente nas mãos da Câmara com votação de projetoEduardo Cunha pode perder título de cidadão honorário de Belo HorizonteTudo foi planejado para que o PT não peça mais em público a cabeça de Levy, embora o governo saiba que não poderá conter críticas à política econômica. A posição sobre Cunha, no entanto, ainda racha o partido.
Oito correntes petistas, entre elas a Mensagem ao Partido - grupo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, outro alvo do "fogo amigo" - pressionam o PT para que feche questão e obrigue seus três representantes no Conselho de Ética a defender a cassação de Cunha. Apesar de dividida, a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB) - integrada por Lula e majoritária no PT - quer desviar o foco desse embate.
Acerto
No Planalto, ministros tentam uma trégua com o presidente da Câmara, sob alegação de que tudo tem de ser feito em nome da governabilidade. A ideia é segurar as negociações sobre a sua sucessão e concentrar esforços nas tratativas para aprovar as medidas do ajuste fiscal até o fim do ano. Além disso, há receio de que Cunha, apesar de desgastado, possa autorizar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"Não imagino que o presidente da Câmara queira se voltar contra o Executivo", disse o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, principal interlocutor do deputado no governo. "E o Executivo também não tem nada a ver com denúncias feitas pelo Ministério Público, que ainda têm de ser julgadas pelo Supremo Tribunal Federal."
Na quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal determinou o sequestro de R$ 9,6 milhões em contas atribuídas a Cunha na Suíça, que teriam sido abastecidas com recursos de propinas na Petrobras.
Ataque
"Ele está usando o seu poder na Casa para retardar a investigação no Conselho de Ética, que tem 21 integrantes. Não é possível que a gente tenha de conviver com uma situação esdrúxula como essa", insistiu o deputado Sílvio Costa (PSC-PE).
Vice-líder do governo, Costa também entrou com representação na Procuradoria, solicitando a saída de Cunha do comando da Câmara. Para o peemedebista, o deputado do PSC age sob orientação do Planalto.
"Até a direita esclarecida está pedindo a cassação de Eduardo Cunha. Como o PT pode ficar atrás disso?", protestou o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe, da corrente Mensagem ao Partido. "Vamos cobrar para que o PT feche questão. Não podemos aceitar que a nossa bancada se cale diante do que está ocorrendo." .