Jornal Estado de Minas

Dois acusados da Chacina de Unaí começam a ser julgados hoje


Começam a ser julgados nesta terça-feira na sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte, dois dos réus da Chacina de Unaí, ocorrida em 2004 com o assassinato de três fiscais e de um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego. Norberto Mânica e José Alberto Costa estão entre os mandantes dos crimes que aconteceram na cidade do Noroeste de Minas. O julgamento era para ter começado na última quinta-feira (22), depois de outros adiamentos anteriores, mas foi remarcado para hoje após manobra da defesa dos acusados.

Na manhã desta terça-feira, advogados dos réus disseram que não fizeram nenhuma tentativa de adiar o tribunal do júri marcado para hoje. O ministro do Trabalho e Emprego, Miguel Rosseto, está na sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte, para acompanhar o julgamento.

Advogados de Norberto Mânica disseram também que os vídeos apresentados pelo Ministério Público e entregue na última semana à Justiça são forçados, cheios de contradições e não têm qualquer prova contra seu cliente. Os vídeos foram produzidos a partir de delação premiada de Hugo Alves Pimenta, um dos acusados de contratar os pistoleiros para matar os fiscais e o motorista.

Fiscais do trabalho fazem protesto com os próprios corpos, formando uma cruz, em frente à sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte, onde dois acusados da Chacina de Unaí serão julgados - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
O advogado Lúcio Adolfo, que representa Hugo Pimenta, rebateu os advogados de Mânica. Segundo ele, Pimenta não foi forçado a fazer a delação. O advogado disse também ter acompanhado o depoimento do cliente ao Ministério Público Federal. "Pode haver contradições naturais de comunicação.

Isso é normal", afirmou a defesa do delator. O advogado não quis, no entanto, detalhar o teor dos vídeos. Adolfo disse apenas que Pimenta relata a participação de Mânica no crime. O julgamento de Pimenta está marcado para o próximo dia 10, em Belo Horizonte.

Ministro do Trabalho


O ministro do Trabalho e Emprego, Miguel Rosseto, disse que veio a Belo Horizonte em solidariedade aos familiares dos fiscais e motorita assassinados. O ministro disse que tem a expectativa que se faça justiça com a condenação de todos os responsáveis pela chacina.

De acordo com Rosseto, a punição exemplar deste crime é importante para preservação do respeito à legislação trabalhista, à vida, além de exemplo de recusa a qualquer tipo de violência.  Para o ministro, o julgamento de hoje vai recompor a idéia de justiça que  os brasileiros vêm pedindo. "Foi um crime (chacina) contra a autoridade brasileira", avaliou.

Rosseto disse também que o julgamento, com a condenação dos reús, contribui para coibir um "padrão de violência inaceitável no país do século XXI". Por outro lado, ele admitiu que fiscais do trabalho convivem ainda hoje com situações de conflito em todo o território nacional.


Julgamento

O julgamento começou com o depoimento do delegado da Polícia Civil,  Wagner Pinto, que presidiu as investigações juntamente com a Polícia Federal. De acordo com ele, na apuração do crime foram feitas interceptações de ligações por telefone entre Norberto Mânica e José Alberto Costa, que ajudaram a desvendar o crime.  

O delegado contou que Norberto Mânica chegou a ameaçar de morte um dos fiscais e que ele, Norberto, foi o 'cabeça de toda essa trama criminosa'. Wagner Pinto também afirmou que as vítimas não tiveram chance de defesa quando o carro em que estavam foi bloqueado pelos pistoleiros, que dispararam vários tiros nas cabeças dos três fiscais e do motorista.

O delegado garantiu em seu depimento ao tribunal do juri que a ideia de  matar as vítimas partiu de Mânica e que a ordem foi dada por José Alberto aos pistoleiros. Conforme a delação de Hugo Alves Pimenta, os irmãos Antério e Norberto Mânica desembolsaram meio milhão de reais  para pagar os pistoleiros da  Chacina de Unaí.


Entenda o caso

A Chacina de Unaí aconteceu em 28 de janeiro de 2004 e repercutiu mundialmente. Os auditores fiscais do Trabalho Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos a tiros enquanto faziam uma fiscalização de rotina na zona rural de Unaí.


A Polícia Federal (PF) pediu o indiciamento de nove pessoas por homicídio triplamente qualificado: os fazendeiros e irmãos Antério e Norberto Mânica, os empresários Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro e Francisco Elder Pinheiro, além de Erinaldo de Vasconcelos Silva e Rogério Alan Rocha Rios, apontados como autores do crime, Willian Gomes de Miranda, suposto motorista da dupla de assassinos, e Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ajudar a apagar os registros da passagem dos pistoleiros pela cidade.

Um dos réus, o empresário Francisco Elder, morreu no último dia 7, aos 77 anos. Apesar do crime ter sido cometido em 2004, os três primeiros responsáveis pela chacina de Unaí só foram condenados em agosto de 2013.
Erinaldo de Vasconcelos Silva recebeu pena de 76 anos e 20 dias por três homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha, Rogério Alan Rocha Rios a 94 anos de prisão pelos mesmos crimes e William Gomes de Miranda a 56 anos de reclusão por homicídio triplamente qualificado..