São Paulo, 27 - Primeiro ex-executivo da Odebrecht a fechar acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato, João Antonio Bernardi Filho afirmou que abriu a offshore Hayley S.A, no Uruguai, e sua filial no Brasil para ocultar a fortuna do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque - braço do PT no esquema de corrupção na estatal, que envolvia ainda o PMDB e PP.
"Entre 2009 e 2010 a Hayley recebeu por volta de 5 milhões de dólares”, afirmou Bernardi, em seu termo de delação premiada, homologado nesta segunda-feira, 26 pelo juiz federal Sérgio Moro - que conduz os processos da Lava-Jato.
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Odebrecht recorre à Justiça da Suíça para tentar impedir envio de dados ao PaísDefesa de Odebrecht avalia que decisão do STF tem caráter estritamente processualSTF nega pedido de liberdade de Marcelo OdebrechtBernardi conta que em 2009 Duque - que está preso em Curitiba, desde março - o procurou informando que tinha "valores a receber no exterior" e teria oferecido a ele que "administrasse tais valores".
"Foi aberta a Hayley Sociedad Anonima", contou Bernardi à força-tarefa da Lava-Jato, no termo número 1, ouvido no dia 15. "Foi aberta uma conta no Millenium no BCP, em Genebra", afirmou. O convite decorreria da longa amizade e do conhecimento adquirido por ele no trabalho com empresas offshores - usadas, neste caso, para abertura de contas secretas no exterior.
Imóveis
Além de quadros - foram apreendidos mais de cem na casa de Duque, no Rio -, o patrimônio de propina do ex-diretor teria sido oculto em bens imóveis. Foram comprados apartamentos, salas comerciais - duas delas também para Duque, onde foi aberta a empresa de assessoria do ex-diretor, em 2013, após sua saída da Petrobras.
"A ideia inicial era aplicar esses recursos em papel (bonds, ações, etc) e depois esta ideia evoluiu para também aplicar esses valores no Brasil, em imóveis, de modo a ter renda para quando Renato Duque saísse da Petrobras", contou o novo delator da Lava Jato.
Bernardi diz ter contrato o advogado José Reginal Filpi para abrir uma offshore para operar esses recebimentos que Duque disse ter. "(Duque) não disse inicialmente qual montante tinha a receber, mas informou que o valor viria de uma única empresa." Teria sido Filpi, o advogado, que sugeriu o Uruguai para abertura de uma offshore, diz o ex-executivo da Odebrecht.
Bernardi foi solto nesta segunda-feira. Ele diz que foi engenheiro da Odebrecht por 22 anos, até 2002. Depois trabalhou na Saipem - multinacional italiana com contratos investigados na Petrobras - até junho deste ano. Sua amizade com Duque é anterior, "mais de 30 anos", quando os dois começaram carreira na Petrobras no setor de perfuração de poços para exploração de petróleo.
Bernardi apontou um total de ativos de US$ 10,6 milhões.