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Estado de Minas

Recomeça julgamento de dois acusados da Chacina de Unaí

Depois de uma pausa para o almoço, as testemunhas voltam a ser ouvidas na sede da Justiça Federal em Belo Horizonte


postado em 27/10/2015 14:51 / atualizado em 27/10/2015 14:58

O julgamento de dois dos acusados pela Chacina de Unaí foi retomado no início da tarde desta terça-feira, depois de um intervalo para o almoço, na sede da Justiça Federal em Belo Horizonte. A defesa do fazendeiro Norberto Mânica, um dos réus, vai tentar transferir a culpa atribuída ao seu cliente a um outro réu no processo: o empresário cerealista Hugo Alves Pimenta, que fez acordo de delação premiada com a Justiça ainda em 2007. Hugo aponta o fazendeiro como a pessoa que mandou matar três fiscais do trabalho e de um motorista, crime ocorrido em 28 de janeiro de 2004, durante investigação de trabalho escravo em Unaí, no Noroeste de Minas, onde Mânica é conhecido como “Rei do Feijão”.

Também está sendo julgado o empresário José Alberto de Castro, que teria intermediado, junto com Hugo, a contratação de três pistoleiros que já foram condenados. Hugo será levado ao banco dos réus em 10 de outubro. “Tecnicamente, Hugo não fez uma delação. O que ele fez foi se retirar do processo. Vamos levar isso aos jurados e provar que ele vem mudando a sua versão ao longo dos anos e evidentemente se colocando fora, como se não tivesse feito nada”, afirmou a defesa do fazendeiro.

A defesa de Mânica considerou a manhã do julgamento tecnicamente proveitosa, quando foi ouvido o delegado da Polícia Civil Wagner Pinto de Souza, que presidiu as investigações na época do crime. “O delegado declarou que o meu cliente foi investigado por ter havido no dia do crime seis ou sete ligações para o telefone fixo da fazenda de Noberto. O meu cliente não atendeu nenhum desses telefonemas e isso está nos autos e vamos trazer as testemunhas para provar”, afirmou a defesa.

Segundo a defesa, a primeira ligação foi às 9h20 e quem atendeu foi uma funcionária da fazenda identificada por Márcia. Depois, quem atendeu a ligação teria sido um responsável pela fazenda, afirmou. “De forma realmente estranha, talvez equivocada, o delegado disse que não investigou o que ocorria na fazenda no dia 28 de janeiro de 2004. Noberto tinha vendido 400 toneladas de milho e eram dez caminhões fazendo o carregamento daquele milho. Várias pessoas virão aqui diante dos jurados dizer que foram elas que telefonaram”, disse o defensor. O réu José Alberto, segundo ele, já confirmou que telefonou para a fazenda, mas não para Noberto. “José Alberto era a pessoa que trabalhava com Hugo e era responsável pelas notas fiscais desse milho e também por acompanhar o carregamento”, afirmou o advogado. Ele disse que vai provar que Hugo está mentindo e vai perder a delação.

O delegado Wagner considera a declaração do advogado uma estratégia para desconstruir uma investigação muito bem produzida pela Polícia Civil. “São vários elementos que provam a participação deles no crime, desde a motivação, os contatos entre as partes e provas materiais colhidas que nos permite afirmar a participação de Noberto, Hugo e José Alberto no crime”, disse o policial.

Segundo Pinto, no dia do crime foram três ou quatro telefonemas para a fazenda de Noberto. Disse que há ligações entre José Alberto e o pistoleiro Erivaldo Francisco dos Reis (condenado a 76 anos e 20 dias em 2013), telefonema de José Alberto para Francisco Elder Pinheiro, acusado de ter contratado os pistoleiros e que morreu há dois anos, e de José Alberto para Hugo. “Também houve ligações entre Hugo e Noberto. São fatos que demonstram a ligação entre essas partes, associada a outras provas do processo”, afirmou Wagner Pinto.


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