Jornal Estado de Minas

Moro minimiza fatiamento da Lava-Jato

São Paulo – O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava-Jato, afirmou nessa terça-feira (27) que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de fatiar os processos foi jurídica e não prejudica os remanescentes, que continuam em Curitiba. Segundo ele, quando começaram as investigações, não se sabia aonde iam dar, e que é difícil prever o que vai acontecer com a operação. Disse que apurações criminais levam a pistas, mas também a becos sem saída. “Gostaria, até por uma questão pessoal, que estivéssemos chegando perto de um final”, afirmou, ressaltando que está “um pouco cansado”,  arrancando risos da plateia presente na palestra no evento Brazilian Summit, realizado no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo, pela revista britânica The Economist.

O magistrado ironizou os críticos das delações premiadas, que comparam o instrumento a uma pescaria. “Tem vindo bastante peixe”, disse. Ele também afirmou que os remédios amargos são necessários para conter a sangria que ocorreu nos cofres da Petrobras. No seu entender, a opinião pública tem desempenhado um papel importante neste processo, posicionando-se a favor das investigações, “o que é essencial em uma democracia”.

Moro disse que é difícil prever o futuro político do Brasil depois do escândalo de corrupção na Petrobras. Mas defendeu que a sociedade cobre da classe política e que este caso sirva de exemplo para ver que o problema existe e trabalhar pelo fortalecimento das instituições.
Ele defendeu ainda que o combate à corrupção não é um dever só das instituições, mas da sociedade também. E brincou dizendo que tem aceitado ir a eventos com empresários para “passar basicamente” um recado: “Não paguem propina”. E continuou: “Temos que fortalecer as instituições, fazer com que esses casos tenham tratamento mais ordinário. Assim o risco Berlusconi será reduzido”, disse, em referência ao ex-premiê italiano, que, embora envolvido em vários escândalos e até condenado, não foi preso. Ele afirmou que todos reclamam da morosidade do Judiciário, defendendo um sistema mais ágil. “No criminal, há um problema adicional, porque gera um sentimento de impunidade, crimes que levam décadas nas cortes, isso faz com que as pessoas percam a confiança na lei e na democracia. O problema principal é a excessiva morosidade que passa pelo sistema recursal.”

SEGUNDA INSTÂNCIA
Moro defendeu o Projeto de Lei do Senado (PLS) 402, apresentado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil.
O juiz já esteve no parlamento defendendo o projeto que prevê o cumprimento da pena já a partir da condenação em segunda instância, o que causou resistência na advocacia. Para o juiz, a Lava-Jato sozinha não é o agente influenciador de uma mudança no país. Ele defendeu o fortalecimento das instituições como primordial para aumentar a eficácia ao combate à corrupção. Ele disse que a Lava-Jato não é uma exceção e, para exemplificar, ressaltou a decisão da magistrada Célia Regina Og Bernardes, que autorizou ainda a prisão de seis envolvidos no esquema de corrupção no Carf. “Esses casos (Lava-Jato, Zelotes, etc...) influenciam positivamente. Nessa terça-feira, mesmo teve a decisão de uma colega juíza que pareceu importante”, disse elogiando a magistrada: “Acredito que o caso (Zelotes) está nas mãos de uma colega juíza muito competente”.

No fim do debate, ele evitou fazer críticas aos poderes Executivo e Legislativo e não quis comentar o suposto acordo entre o governo e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para evitar o impeachment da presidente Dilma Roussef e a cassação de Cunha, ao ser questionado se a tratativa, de alguma forma, poderia atrapalhar o trabalho do Judiciário.

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