O empresário José Alberto de Castro, acusado de ser o intermediário entre os mandantes do crime que ficou conhecido como Chacina de Unaí e os pistoleiros, foi retirado da sala durante o depoimento de Norberto Mânica, no final da tarde desta quinta-feira. A defesa do fazendeiro, acusado de encomendar a morte dos auditores fiscais do Trabalho, é de que Mânica não encomendou os assassinatos.Os advogados afirmaram que ele tinha relação excelente e nunca teve qualquer desavença com o auditor Nelson José da Silva. O conselho de sentença é formado por quatro mulheres e três homens.
No interrogatório, Norberto afirmou não ter ligação com o crime: "inclusive fiquei assustado. Não houve ameaça ao Nelson, houve uma discussão. Estou aqui para provar isso". Ele disse que discutiram por causa do registro de trabalhadores. "Fiquei nervoso", disse o fazendeiro.
Mânica afirmou que, em seu entendimento, quem matou os auditores foi Hugo Pimenta, o colaborador da Justiça e garantiu que nunca deu dinheiro para ninguém, nem mandante e nem mulher de preso. Em seguida, se emocionou e chorou. Disse que depois das acusações foi obrigado a se mudar para o Mato Grosso. "Não sou homem disso. Sou homem de pegar no pesado", disse.
O acusado afirmou ter um "relacionamento apenas comercial com Hugo". "Não sei porque ele me acusa. Quanto a José Alberto, ele era conhecido. Os pistoleiros eu conheci na cadeia". Mânica disse que esteve com o auditor Nelson apenas duas ou três vezes e que "acha ele um fiscal austero, mas justo".
Durante o interrogatório Mânica cometeu ato falho e disse que teve uma "briga" com o Nelson. Mas em seguida tentou corrigir, dizendo que foi uma "discussão". O ato falho causou risadas na platéia. ele arrancou mais risadas quando disse que não sabe porque Hugo o acusa de ser o mandante do crime. "Mas chama ele aí que nós aperta ele (sic)", disse Mânica.
Bem ao seu estilo, Mânica ironizou o procurador Bruno Magalhães, que lhe indagou se ele iria para o céu ou para o purgatório. A resposta foi: “se não fosse para o céu, estava beirando. Bem pertinho”.
Entenda o caso
A Chacina de Unaí aconteceu em 28 de janeiro de 2004 e repercutiu mundialmente. Os auditores fiscais do Trabalho Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos a tiros enquanto faziam uma fiscalização de rotina na zona rural de Unaí.
A Polícia Federal (PF) pediu o indiciamento de nove pessoas por homicídio triplamente qualificado: os fazendeiros e irmãos Antério e Norberto Mânica, os empresários Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro e Francisco Elder Pinheiro, além de Erinaldo de Vasconcelos Silva e Rogério Alan Rocha Rios, apontados como autores do crime, Willian Gomes de Miranda, suposto motorista da dupla de assassinos, e Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ajudar a apagar os registros da passagem dos pistoleiros pela cidade.
Um dos réus, o empresário Francisco Elder, morreu no último dia 7, aos 77 anos. Apesar do crime ter sido cometido em 2004, os três primeiros responsáveis pela chacina de Unaí só foram condenados em agosto de 2013. Erinaldo de Vasconcelos Silva recebeu pena de 76 anos e 20 dias por três homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha, Rogério Alan Rocha Rios a 94 anos de prisão pelos mesmos crimes e William Gomes de Miranda a 56 anos de reclusão por homicídio triplamente qualificado.
O empresário José Alberto de Castro, acusado de ser o intermediário entre os mandantes e os pistoleiros da chacina de Unaí irá confessar sua participação no crime que terminou com o assassinato de três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho em janeiro de 2004, na zona rural do município do Noroeste mineiro. Esta quinta-feira (29) é o terceiro dia de julgamento.