O produtor rural José Alberto de Castro complicou nesta quinta-feira a situação do fazendeiro Norberto Mânica ao confirmar que ele colaborou com a contratação de pistoleiros para matar os auditores-fiscais do Trabalho, no crime que ficou conhecido como a 'Chacina de Unaí'. Castro disse que Mânica estava "incomodado com um fiscal e queria matá-lo. "Vou assumir minha culpa. Eu errei", confessou. Segundo ele, a contratação dos pistoleiros e a preparação do crime consumiu R$ 6 mil. Disse ainda que foi ele quem mostrou aos executores onde era a casa de Nelson. No dia seguinte, ficou sabendo que ele estava acompanhado e quatro pessoas foram mortas. "Quando soube passei mal e fui para casa".
No terceiro dia do julgamento, os dois acusados de arquitetar o assassinato dos auditores-fiscais do Trabalho, Norberto Mânica e José Alberto de Castro, foram interrogados. O primeiro a falar foi o fazendeiro Mânica, conhecido como o “Rei do Feijão” e acusado de ser o mandante do crime. Ele respondeu a perguntas da acusação e da defesa, afirmando que não teve nenhuma participação nos assassinatos. “Não tenho nada a ver com isso. Inclusive fiquei assustado. Não houve ameaça ao Nelson (um dos auditores), houve uma discussão”, disse Mânica ao ser questionado pelo juiz federal Murilo Fernandes sobre a participação no crime. A previsão é de que o julgamento seja encerrado nesta sexta-feira, na sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte.
O fazendeiro contou ainda que não se sentia perseguido pelo fiscal, uma vez que ele multava todos os fazendeiros da região. Mânica disse que tem medo de ser assassinado por Erinaldo dos Santos, um dos pistoleiros que afirmou ter recebido R$ 6 mil do fazendeiro para matar os fiscais e colaborou com a Justiça. Erinaldo foi condenado e está preso.
Mânica afirmou que, em seu entendimento, quem matou os auditores foi Hugo Pimenta, o colaborador da Justiça e garantiu que nunca deu dinheiro para ninguém, nem mandante e nem mulher de preso. Em seguida, se emocionou e chorou. Disse que depois das acusações foi obrigado a se mudar para o Mato Grosso. "Não sou homem disso. Sou homem de pegar no pesado", disse.
O acusado afirmou ter um "relacionamento apenas comercial com Hugo". "Não sei porque ele me acusa. Quanto a José Alberto, ele era conhecido. Os pistoleiros eu conheci na cadeia". Mânica disse que esteve com o auditor Nelson apenas duas ou três vezes e que "acha ele um fiscal austero, mas justo".
Durante o interrogatório Mânica cometeu ato falho e disse que teve uma "briga" com o Nelson. Mas em seguida tentou corrigir, dizendo que foi uma "discussão". O ato falho causou risadas na platéia. Ele arrancou mais risadas quando disse que não sabe porque Hugo o acusa de ser o mandante do crime. "Mas chama ele aí que nós aperta ele (sic)", disse Mânica. Bem ao seu estilo, Mânica ironizou o procurador Bruno Magalhães, que lhe indagou se ele iria para o céu ou para o purgatório. A resposta foi: “se não fosse para o céu, estava beirando. Bem pertinho”.
A Chacina de Unaí aconteceu em 28 de janeiro de 2004 e repercutiu mundialmente. Os auditores fiscais do Trabalho Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos a tiros enquanto faziam uma fiscalização de rotina na zona rural de Unaí.
A Polícia Federal (PF) pediu o indiciamento de nove pessoas por homicídio triplamente qualificado: os fazendeiros e irmãos Antério e Norberto Mânica, os empresários Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro e Francisco Elder Pinheiro, além de Erinaldo de Vasconcelos Silva e Rogério Alan Rocha Rios, apontados como autores do crime, Willian Gomes de Miranda, suposto motorista da dupla de assassinos, e Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ajudar a apagar os registros da passagem dos pistoleiros pela cidade.
Um dos réus, o empresário Francisco Elder, morreu no último dia 7, aos 77 anos. Apesar do crime ter sido cometido em 2004, os três primeiros responsáveis pela Chacina de Unaí só foram condenados em agosto de 2013. Erinaldo de Vasconcelos Silva recebeu pena de 76 anos e 20 dias por três homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha, Rogério Alan Rocha Rios a 94 anos de prisão pelos mesmos crimes e William Gomes de Miranda a 56 anos de reclusão por homicídio triplamente qualificado.