Jornal Estado de Minas

Bate-boca atropela o decoro na Câmara e no Senado


Os ânimos andam exaltados no Congresso Nacional. Esta semana, em pelo menos três momentos, deputados e senadores deixaram de lado o chamado “decoro parlamentar” para discutir, muitas vezes, de maneira agressiva. Os adjetivos usados foram nada menos que “safado”, “bandido”, “ladrão” e “vagabundo”. Nessa quinta-feira (29), durante audiência da Comissão Mista de Mudanças Climáticas, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e seu colegado licenciado e atual ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM) quase saíram no tapa. Em troca de gritos de “safado” e “bandido”, Caiado chegou a chamar o ministro para “resolver a questão” fora do plenário do Senado, onde acontecia a reunião, insinuando que o impasse fosse resolvido no braço.

Tudo começou por causa de um questionamento feito por Caiado sobre a renovação da concessão da Companhia Elétrica de Goiás (Celg). O senador ficou irritado porque o ministro estava olhando para o celular e não para ele e passou a gritar dizendo que estava sendo desrespeitado por Braga. “Vossa Excelência deveria ficar calmo, está muito nervoso. Vossa Excelência está desequilibrado”, disse Braga, enquanto Caiado o chamava de “bandido” e “safado”.
“Negociata de Vossa Excelência, de seu estado. Safado é Vossa Excelência, me respeite. Bandido é você”, retrucou o ministro. Caiado então chamou o ministro para a briga. Braga continuou sentado enquanto o senador era contido por outros parlamentares.

Após a retirada de Caiado da sala, os demais senadores fizeram um desagravo e repudiaram a “atitude destemperada” do senador do DEM. Segundo Braga, a reação de Caiado tem a ver com a privatização da Celg Distribuidora pela Eletrobras. O ministro diz que a companhia de energia de Goiás teve prejuízo milionário e seu leilão está previsto para mês que vem.
Caiado é contra.

DESARMAMENTO Na quarta-feira, também houve debate acalorado na tribuna da Câmara. Dessa vez, o embate foi entre o deputado da bancada evangélica João Rodrigues (PSD-SC) e o militante do movimento LGBT, Jean Wyllys (PSOL-RJ), único congressista assumidamente gay. Da tribuna, João Rodrigues contestou as críticas de Jean Wyllys à aprovação em comissão da flexibilização do Estatuto do Desarmamento e se referiu a ele como ex-integrante do Big Brother Brasil. Com ironia, Rodrigues afirmou que o reality show, do qual Jean Wyllys fez parte, é um “um programa extremamente culto, que acrescenta demais na cultura dos brasileiros.

Em aparte, Wyllys partiu para cima do parlamentar, lembrando que ele foi flagrado, em junho deste ano, vendo vídeos pornôs durante votação da reforma política e também que ele já foi condenado por “roubar o dinheiro do povo”. João Rodrigues foi condenado a cinco anos e três meses de prisão por fraude em uma licitação quando foi prefeito interino de Pinhalzinho (SC), em 1999. O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar ainda este ano o recurso contra a condenação do parlamentar.

“Homens decentes não assistem a vídeo pornô em plena sessão plenária, homens decentes não são condenador por improbidade administrativa por roubar dinheiro público como o deputado foi, portanto quem não tem moral para representar o povo brasileiro é ladrão. (…) e qualquer programa de televisão é mais decente que deputado que rouba dinheiro do povo em sua administração pública”, retrucou Wyllys, que ainda insinuou não saber se o vídeo erótico era de uma relação homossexual ou heterossexual. Segundo o deputado do PSOL, há muito parlamentar “enrustido” no Congresso.
O bate-boca foi acompanhado sob o olhar arregalado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e sob aplausos dos deputados do PSOL e do PT.

PROTESTO
No mesmo dia quem também perdeu a compostura foi o deputado federal Sibá Machado (PT-AC), que xingou os integrantes do Movimento Brasil Livre, que protestavam nas galerias contra a permanência da presidente Dilma Rousseff no cargo. “Eu vou juntar gente e vou botar vocês para correr daqui de frente do Congresso. Bando de vagabundos. Vocês são vagabundos. Vamos pro pau com vocês agora”, disse o deputado em resposta ao coro dos manifestantes. Das galerias, eles repetiam o bordão “chora petista bolivariano, a roubalheira do PT está acabando”.

FARPAS NO PLENÁRIO

No ínício deste mês, troca de trocas de farpas entre governo e oposição também terminou em bate-boca no plenário da Câmara. A confusão começou quando o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), discursava “A presidenta Dilma é uma mulher que não tem história de sair pelo fundo, como alguns de Vossas Excelências têm, ocupam a tribuna e ninguém fala. Por que vossas excelências não falam sobre o que está acontecendo com o presidente nacional do DEM, um inquérito aberto pelo Supremo? Por que vocês não falam sobre isso?”, provocou Guimarães se referindo ao senador Agripino Maia, alvo de um inquérito no STF por envolvimento com a Lava-Jato. “Brincadeira! Brincadeira, deputado Guimarães!”, rebateu o líder do PPS, Rubens Bueno (PR). “Saia daí, saia daí!”, bradava.
Guimarães tentou prosseguir: “Falta à oposição autoridade política e moral para criticar a presidenta Dilma. Ela tem história, deputado Rubens Bueno. Ela tem história. Não manche a história de uma mulher, que tem história de luta pela democracia no Brasil”.”A história que ela tem é a história do ‘petrolão’. Ela é a mãe do ‘petrolão’”, retrucou Bueno.
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