A defesa do fazendeiro Norberto Mânica, acusado de ser um dos mandantes da Chacina de Unaí, disse no início do quarto e último dia do júri popular, que seu cliente é inocente. A culpa foi atribuída ao empresário cerealista Hugo Alves Pimenta, delator da chacina. "Ele (Hugo) é um psicopata. Consta nos autos que ele é um homem agressivo, que já bateu na mulher. Já Mânica, segundo a defesa, é uma pessoa bem quista na região e que saiu de Unaí apenas por vergonha da população por ser apontado como mandante do crime".
Nessa quinta-feira (29), a defesa já havia afirmado que a palavra de Hugo Pimenta, que fez acordo de delação premiada com a Justiça em 2007, 'não vale nada'. Hugo aponta o fazendeiro Norberto Mânica como a pessoa que mandou matar três fiscais do trabalho e um motorista. Ouvido nessa quinta-feira como testemunha e acusado de ser intermediário entre pistoleiros e mandantes, o empresário deverá ser julgado no dia 10 de novembro.
A previsão é de que o julgamento será encerrado nesta sexta-feira, na sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte. Segundo o juiz Murilo Fernandes, os debates entre defesa e acusação podem durar até nove horas, metade do tempo para cada uma das partes. A previsão é de que a sentença saia entre 21h e 22h de hoje.
Marinês Lina de Laia, viúva do fiscal Erastótenes de Almeida Gonçalves, disse que espera Justiça, mas ressalva: "Condenados somos nós, familiares, que perdemos nossos entes queridos. Eles, se condenados, vão recorrer e daqui a alguns anos estarão livres", lamentou. Durante os debates, a viúva chorou muito ao ver as fotos do corpo do marido e das demais vítimas no loal do crime. O júri teve que ser interrompido por alguns minutos. O promotor Gustavo Torres afirmou que "não será possível fazer Justiça plena porque a lei brasileira é muito branda para crimes bárbaros". Ele lembra que o pistoleiro Erinaldo de Vasconcelos Silva, condenado a 12 anos, estará livre já no ano que vem.
São julgados nesta sexta-feira dois dos acusados de arquitetar o assassinato dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho, Norberto Mânica e José Alberto de Castro. Ambos foram interrogados na sessão dessa quinta-feira (29). Acusado de ser o mandante do crime, o fazendeiro Mânica, conhecido como o “Rei do Feijão”, disse que não teve participação nos assassinatos.
O empresário José Alberto de Castro, que teria intermediado a contratação de pistoleiros, confessou perante o tribunal do júri a sua participação no assassinato do fiscal Nelson Silva. No dia antetrior, o advogado do réu já havia informado que ele iria admitir a culpa neste crime. Castro afirmou que o combinado era matar apenas o fiscal Nelson José da Silva. No entanto, negou conhecer Norberto Mânica.
A chacina aconteceu em 28 de janeiro de 2004. Os auditores fiscais Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Oliveira foram mortos a tiros quando faziam fiscalização de rotina na zona rural de Unaí.
A Polícia Federal pediu o indiciamento de nove pessoas por homicídio triplamente qualificado: os irmãos Antério e Norberto Mânica, os empresários Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro e Francisco Elder Pinheiro, além de Erinaldo de Vasconcelos Silva e Rogério Alan Rocha Rios, apontados como autores do crime, Willian Gomes de Miranda, suposto motorista da dupla de assassinos, e Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ajudar a apagar os registros da passagem dos pistoleiros pela cidade.
Um dos réus, o empresário Francisco Elder, morreu no último dia 7, aos 77 anos. Apesar de o crime ter sido cometido em 2004, os três primeiros responsáveis pela chacina de Unaí só foram condenados em agosto de 2013.