Dois de cada três dos 299 deputados reeleitos estão hoje menos governistas do que em 2011, no começo do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Desse contingente de três centenas, 40 trocaram de lado: votam agora mais com a oposição do que com o governo. Os demais apenas ficaram menos fiéis ao Palácio do Planalto.
O afastamento dos deputados "veteranos" da órbita do governo é medido de acordo com seus padrões de votação, registrados pelo Basômetro, ferramenta online do Estadão Dados que mede o governismo de parlamentares, partidos e bancadas estaduais.
Em 2011, os então 299 deputados que hoje mantêm seus mandatos tinham uma taxa média de governismo de 78 pontos, em uma escala de zero a 100. Neste ano, até outubro, a média dos mesmos parlamentares caiu para 65 pontos.
No Basômetro, a taxa de governismo mede o alinhamento de cada parlamentar às orientações do líder do governo na Câmara nas votações. Se o deputado votar sempre da mesma forma que o líder do governo, sua taxa será 100. Se o fizer em metade das votações a taxa será 50, e assim por diante.
'Vira-casacas'.
Há um grupo de reeleitos que se caracteriza pela alta fidelidade a Dilma no primeiro mandato e pelo confronto no segundo. Na lista dos 30 maiores "vira-casacas" (veja quadro), a taxa de governismo média caiu de 94 pontos em 2011 para apenas 40 pontos neste ano.
O gaúcho Jerônimo Goergen, do PP, é o líder no ranking dos "vira-casacas": ele votou com o governo em 98% das vezes em 2011; hoje, essa taxa caiu para apenas 25%. "Ficou mais fácil fazer oposição", disse Goergen ao Estado, na sexta-feira. "Houve uma perda de qualidade muito grande no governo."
Nas eleições de 2010, Goergen votou em José Serra (PSDB) na disputa contra Dilma. No ano seguinte, foi um dos deputados mais fiéis ao governo da petista. "O ambiente era outro, eu estava em primeiro mandato na Câmara e basicamente apenas seguia a orientação da liderança do meu partido", afirmou.
Um dos deputados investigados pela Operação Lava Jato, Goergen nega relação entre esse fato e seu afastamento do governo. "Meu nome apareceu nas investigações em março deste ano, mas já em 2014 o PP do Rio Grande do Sul decidiu romper com Dilma", afirmou.
Outro expoente no ranking é Paulo Pereira da Silva (SD-SP), conhecido como Paulinho da Força. Hoje ele é um dos articuladores da tentativa de abrir um processo de impeachment contra Dilma no Congresso. Em 2011, porém, ele se alinhou ao governo em nove de cada dez votações das quais participou.
Padrão. Há um claro padrão partidário na onda de distanciamento dos parlamentares em relação ao governo. No PP, Jerônimo Goergen não está sozinho: 26 dos 27 integrantes do partido que exerciam mandato também em 2011 estão hoje menos governistas. A exceção é Jair Bolsonaro (RJ), que já fazia oposição extrema no primeiro mandato de Dilma e manteve os mesmos padrões de votação.
No PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, o movimento é similar: dos 46 deputados reeleitos na legenda, 41 (89%) tiveram queda na taxa de governismo, dois mantiveram seus níveis e apenas três passaram a ser mais fiéis às orientações do Palácio do Planalto.
Houve afastamentos significativos também no PSB, no PTB e no PDT partidos que já abandonaram formalmente a base de apoio a Dilma.
No PSB, que se afastou da petista ainda no final do primeiro mandato, 16 dos 18 deputados reeleitos estão menos governistas. No PDT, 15 dos 16 "veteranos" seguiram a mesma tendência. No PTB foram 16 de 18.
Levando-se em conta toda a Câmara, e não apenas os deputados reeleitos, 16 partidos estão atualmente menos governistas do que no começo do primeiro mandato de Dilma.
Todos os 21 deputados reeleitos que são investigados pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, são hoje menos governistas do que em 2011, no primeiro ano do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Do grupo de parlamentares investigados, 19 integram o PP, um o PT e um o PMDB. Apesar de serem menos fiéis, a maioria (15) continua votando mais com o governo do que com a oposição.