São Paulo - Sem poder contar com financiamentos empresariais e em meio à maior crise de imagem de sua história, o PT decidiu adotar nas eleições municipais do ano que vem uma estratégia semelhante à que era usada nos anos 1980, nas origens do partido. A ideia é lançar o maior número possível de candidatos a prefeito, mesmo com poucas chances de vitória, para ocupar os espaços no debate político, principalmente no rádio e na TV, para fazer a defesa do partido.
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"Lula não é a única opção do PT para 2018", diz BerzoiniLula diz que PT vive momento difícil, mas que acredita na superaçãoEstrutura pelo País dá ao PT sobrevivência mesmo sem Lula, dizem especialistasTexto do PT mantém omissão sobre situação de CunhaDilma comanda reunião com Temer, 11 ministros e líderes do CongressoEm documentos oficiais, o PT ainda fala em "manter a trajetória de crescimento", mas em conversas reservadas integrantes do partido admitem que, em função da crise, a legenda deve, pela primeira vez em sua história, sair de uma eleição municipal menor do que entrou, "As eleições não são um fim em si mesmo", diz a resolução eleitoral aprovada quinta-feira pelo Diretório Nacional do PT. O documento marca o início formal do debate eleitoral e define a estratégia para 2016.
"Vamos ter como centro do debate a defesa do PT. Isso vai nos levar a um número grande de candidaturas para que os espaços políticos sejam ocupados, principalmente onde há rádio e TV", disse o presidente do PT, Rui Falcão. Segundo ele, a ideia é lançar o "maior número possível" de candidatos desde que não atropelem alianças já consolidadas com partidos da base. O foco principal é a eleição geral de 2018.
A estratégia vai no sentido contrário à adotada nos últimos pleitos, quando o PT adotou uma postura mais pragmática, privilegiando as cidades onde o partido tinha chances reais de vitória e, nas demais, fez coligações com aliados.
Antipetismo
Alguns pré-candidatos já reclamam da orientação. Muitos deles querem esconder o PT e Dilma e focar suas campanhas nas questões locais para se preservar do desgaste do governo e da rejeição ao partido.
O antipetismo já é visto como um dos maiores entraves para os candidatos do partido em 2016. Por isso, vários prefeitos estão deixando a legenda para concorrer por outras siglas.
Outra semelhança da estratégia traçada para 2016 em relação aos primórdios do petismo é a falta de dinheiro. O partido aboliu as contribuições empresariais em suas campanhas. "Nada melhor do que usar o verbo e gastar muita sola de sapato", disse Falcão em comunicado à militância petista.
Neste cenário, a reeleição de Fernando Haddad em São Paulo ganhou ainda mais importância. "Se ganharmos São Paulo ganhamos a eleição", disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião do Conselho Político do PT, em setembro.
O prefeito enfrenta os piores índices de popularidade desde sua eleição e já consultou aliados sobre a possibilidade de deixar o partido.
Mudanças
Com mais de 50 anos de experiência, o sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor da PUC-RJ, atua principalmente nas áreas de judicialização da política, relações entre os Poderes e, mais recentemente, nas gestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo durante o 39.º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG), Vianna avalia como "preocupante" o fato de Lula e dois filhos dele serem citados em investigações da Polícia Federal.
Werneck Vianna diz que "já passou da hora de o PT fazer uma autocrítica". O professor acredita, no entanto, que o partido não deve acabar, mas "deve mudar".