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Estado de Minas

Mais um acusado de participar da Chacina de Unaí é julgado em BH

O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica é apontado pelo Ministério Público Federal como um dos mandantes do crime ocorrido na cidade do Noroeste mineiro


postado em 04/11/2015 08:11 / atualizado em 04/11/2015 13:08

Antério Mânica chega para o julgamento acompanhado do advogado Marcelo Leonardo (E)(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Antério Mânica chega para o julgamento acompanhado do advogado Marcelo Leonardo (E) (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Começou nesta quarta-feira o julgamento do ex-prefeito de Unaí Antério Mânica, na sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte. Antério é irmão do fazendeiro Norberto Mânica, conhecido na cidade do Noroeste mineiro como o 'Rei do Feijão', e foi condenado, na última sexta-feira (30/10), como mandante do crime, com sentença de 25 anos de prisão para cada assassinato, totalizando 100 anos de pena. Norberto poderá abater da condenação o período de um ano e quatro meses de cumprimento de pena na cadeia. Por ser réu primário, ele recorrerá da sentença em liberdade. A Chacina de Unaí ocorreu em 2004 com a morte de três fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego, que fiscalizavam denúncias de trabalho escravo na região.

Nesta quarta-feira, o advogado das viúvas das vítimas e assistente de acusação, Antônio Francisco Patente, afirmou que haverá surpresas no julgamento de hoje. Segundo o advogado, há provas contundentes  do envolvimento de Antério Mânica na Chacina de Unaí. "Existe um caminhão de provas que envolvem o Antério na cadeia principal da decisão do crime", afirmou Patente. O julgamento deverá durar até sexta-feira (5). A previsão é que durante o dia de hoje sejam ouvidas entre 15 e 20 testemunhas do crime.

Manifestantes protestam em frente à sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte, onde acontece o julgamento de Antério Mânica(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Manifestantes protestam em frente à sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte, onde acontece o julgamento de Antério Mânica (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Protestos

Na porta da sede da Justiça Federal, na capital, manifestantantes gritaram assassino durante a chegada do réu Antério Mânica, que estava acompanhado do advogado Marcelo Leonardo. Nenhum dos dois quis falar com a imprensa. Antério entrou na sede da Justiça sorrindo. Perguntado se é inocente, ele não respondeu.

A presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais, Rosa Jorge,  disse que a categoria está confiante na condenação de Antério. Para ela, o ex-prefeito de Unaí é o mentor da chacina. Ela também disse  que é frustrante para os fiscais do trabalho ver Norberto Mânica recorrer da sentença da condenação em liberdade. "Como pode uma pessoa que pegou pena máxina ser colocada em liberdade?", reclamou Rosa Jorge.

Delegado

Delegado Wagner Pinto(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Delegado Wagner Pinto (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
O delegado da Polícia Civil, Wagner Pinto , que participou da força-tarefa para investigar a chacina, juntamente com a Polícia Federal, é o primeiro a ser ouvido neste início de julgamento de Antério Mânica. Mais cedo, ao chegar à sede da Justiça Federal, o delegado disse que seu depoimento seria técnico, relativo aos indícios que podem levar à participação de Antério na chacina.

O delegado disse que não participou da segunda parte das investigações, quando Antério foi incluído como suspeito de participar do crime. Mas ressalvou que sabe que o uso do carro Marea, apontado  pela acusação como sendo da mulher de Antério, é um elemento importante para esclarecer os autores do crime.

De acordo com as investigações da força-terefa policial, o carro teria sido usado no dia anterior ao crime pelos pistoleiros acusados de matar as vítimas. Testemunhas viram o carro com os pistoleiros em um posto de gasolina.

Wagner Pinto também afirmou que, durante as investigações, foram colhidas evidências de que a motivação do crime foi gerada pelo descontentamento  de Norberto Mânica com o número de multas dadas pelos fiscais mortos na chacina. O delegado disse que pouco antes das mortes houve fiscalizações em fazendas dos irmãos Mânica que provocou 'inconformismo' nos fazendeiros.

O delegado também refutou a argumentação da defesa de Norberto Mânica, que sustentou ser o cerealista Hugo Alves Pimenta o mandante do crime. Wagner Pinto disse que o cerealista não tinha motivo para ordenar o crime. Pimenta é acusado pelo Ministério Público Federal de ser o intermédiario da chacina ao contactar os pistoleiros que executaram o crime.

Defesa


O delegado Wagner Pinto também foi questionado pela defesa de Antério Mânica. Perguntado por Marcelo Leonardo, advogado do réu, se possui elementos suficientes para acusar  Antério de envolvimento na chacina, o delegado disse que não. No entanto, ele afirmou em seguida que ouviu rumores do envolvimento de Antério no crime.

Viúva

Helba Soares, viúva do fiscal morto Nelson Silva, disse ao tribunal do júri que o marido chegou a comentar com ela as irregularidades encontradas  na fazenda de Luiz Mânica, um dos irmãos de Norberto. No dia seguinte ao comentário,  de acordo com Helba, Nelson saiu cedo, por volta das 7 horas. Pouco mais de quatro depois, ela recebeu a notícia de que o marido estava morto.

Helba também relatou que Nelson comentou com ela que vinha sofrendo ameaças de funcionários dos irmãos Mânica. "Ele (Nelson Silva), incomodava muito", disse a mulher do fiscal. Ela contou que o marido tinha muito medo de ser morto.

Helba também disse que Celso Mânica teria dito a um cunhado dela que os Mânica não mataram quatro  pais de família. "Mas quatro cachorros", afirmou Elba. Segundo ela, esta declaração teria sido feita em um bar durante a campanha eleitoral de Antério a prefeito de Unaí.

O advogado Marcelo Leonardo contestou a declaração de Elba. Segundo o advogado, o cunhado dela, Wanderli da Silva Rodrigues, prestou depoimento à Polícia Federal negando que tivesse escutado a declaração de Celso. Elba rebateu a defesa de Antério. De acordo com ela, o cunhado desmentiu a história por medo dos Mânica.

O tribunal do juri fez uma pausa para o almoço e retorna após 13h15.


Plenário do Tribunal do Júri, onde acontece o julgamento de Antério Mânica(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Plenário do Tribunal do Júri, onde acontece o julgamento de Antério Mânica (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


Entenda o caso

A Chacina de Unaí aconteceu em 28 de janeiro de 2004 e repercutiu mundialmente. Os auditores fiscais do Trabalho Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos a tiros enquanto faziam uma fiscalização de rotina na zona rural de Unaí.

A Polícia Federal (PF) pediu o indiciamento de nove pessoas por homicídio triplamente qualificado: os fazendeiros e irmãos Antério e Norberto Mânica, os empresários Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro e Francisco Elder Pinheiro, além de Erinaldo de Vasconcelos Silva e Rogério Alan Rocha Rios, apontados como autores do crime, Willian Gomes de Miranda, suposto motorista da dupla de assassinos, e Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ajudar a apagar os registros da passagem dos pistoleiros pela cidade.

Um dos réus, o empresário Francisco Elder, morreu no último dia 7, aos 77 anos. Apesar do crime ter sido cometido em 2004, os três primeiros responsáveis pela chacina de Unaí só foram condenados em agosto de 2013. Erinaldo de Vasconcelos Silva recebeu pena de 76 anos e 20 dias por três homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha, Rogério Alan Rocha Rios a 94 anos de prisão pelos mesmos crimes e William Gomes de Miranda a 56 anos de reclusão por homicídio triplamente qualificado.


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