O julgamento da chamada “Chacina de Unaí” segue na tarde desta quarta-feira com o depoimento de testemunhas do caso. Desta vez quem está sendo julgado é o ex-prefeito de Unaí Antério Mânica. Os depoimentos ocorrem na sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte. Primeiro a falar após a pausa para o almoço, Erinaldo de Vasconcelos Silva, condenado por ter executado os fiscais e delator da Justiça, confirmou que foi contratado por Francisco Pinheiro a pedido de "fazendeiros" para matar Nelson da Silva. Disse que só ficou sabendo os nomes dos mandantes depois de ser preso. Mas, afirmou que na prisão Norberto Mânica pediu para que eles sustentassem a tese de latrocínio porque assim todos sairiam da prisão. Em troca de confirmar a versão, Norberto daria a Erinaldo um caminhão.
Ainda em seu depoimento, Erinaldo confirmou que depois do crime uma pessoa esteve no local em um Marea escuro. O carro pertence à mulher de Antério Mânica. No entanto, disse que não viu o rosto do Motorista. Chovia na hora. Segundo Erinaldo, José Alberto foi ate carro e afirmou que o "chefe" estava bravo. Erinaldo esta condenado a 76 anos, cumpriu 11 em regime fechado e dentro de um ano vai progredir de regime.
Na sequência, foi a vez de Elen Fernanda Melo, gerente financeira, administrativa e de RH dá Uma Cereais de Hugo Alves Pimenta. À época do crime, percebeu uma movimentação extraordinária com o saque de dois ou três cheques e os valores entregue a Hugo. Confirmou que todos os irmãos Manica mantinham contato comercial com a Uma. A empresa, segundo ela, tinha negócios com 70 fazendeiros e nunca viu Antério por lá.
Outro a falar à Justiça na tarde de hoje, Dênis Mendes Texeira, ex-funcionário do condomínio empregador da família Mânica; Ele disse que o fiscal Nelson esteve no condomínio onde chegou por volta de 15h e saiu às 20h. Confirmou que no dia anterior as execuções Nelson fiscalizou a Fazenda Novo Mundo de Antério. "O crime foi bárbaro e é natural que as pessoas tenham medo de falar sobre isso", disse Dênis.
Durante a fala de Dênis, o advogado de defesa, Marcelo Leonardo, indagou a testemunha para que ele dissesse quem é o dono da fazenda Novo Mundo. Dênis reafirmou que era de Antério, de acordo com informação do advogado de Norberto Mânica.
Ligações no dia do crime
A servidora da subdelegacia do Trabalho de Unaí, Rita Cristina Carneiro Neiva Mundim, disse que no dia do crime, Antério ligou por volta da 9h30 para a unidade para saber se todos os fiscais tinham morrido. Ela disse que não sabia e ele ligou 15 minutos depois para confirmar as execuções. Ela ainda disse que no dia anterior ao crime uma pessoa ligou para a delegacia para saber até que horas Nelson ficaria no local porque pretendiam mandar uma telemensagem e flores.
Dor da família
A esposa de Erastótenes de Almeida Gonçalves – um dos fiscais mortos -, Marinez Lina, também foi ouvida como informante. O relógio de Erastoténes foi a chave fundamental para esclarecer o crime. "Até hoje a dor não cala. As famílias são as verdadeiras condenadas a viver com filhos sem pai e mulheres sem marido", disse a viúva.
Entenda o caso
A Chacina de Unaí aconteceu em 28 de janeiro de 2004 e repercutiu mundialmente. Os auditores fiscais do Trabalho Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos a tiros enquanto faziam uma fiscalização de rotina na zona rural de Unaí.
A Polícia Federal (PF) pediu o indiciamento de nove pessoas por homicídio triplamente qualificado: os fazendeiros e irmãos Antério e Norberto Mânica, os empresários Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro e Francisco Elder Pinheiro, além de Erinaldo de Vasconcelos Silva e Rogério Alan Rocha Rios, apontados como autores do crime, Willian Gomes de Miranda, suposto motorista da dupla de assassinos, e Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ajudar a apagar os registros da passagem dos pistoleiros pela cidade.
Um dos réus, o empresário Francisco Elder, morreu no último dia 7, aos 77 anos. Apesar do crime ter sido cometido em 2004, os três primeiros responsáveis pela chacina de Unaí só foram condenados em agosto de 2013. Erinaldo de Vasconcelos Silva recebeu pena de 76 anos e 20 dias por três homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha, Rogério Alan Rocha Rios a 94 anos de prisão pelos mesmos crimes e William Gomes de Miranda a 56 anos de reclusão por homicídio triplamente qualificado.