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Estado de Minas

Sentença de ex-prefeito acusado de participar da Chacina de Unaí deve sair hoje

Julgamento de Antério Mânica começou nessa quarta-feira (4), na sede da Justiça Federal, em Belo Horizonte. Ele é acusado de envolvimento nos assassinatos de três fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego


postado em 05/11/2015 08:51 / atualizado em 05/11/2015 12:10

Imagem do julgamento de Antério Mânica, nesta quinta-feira, que começou com apresentação de vídeos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Imagem do julgamento de Antério Mânica, nesta quinta-feira, que começou com apresentação de vídeos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

O julgamento do ex-prefeito de Unaí  Antério Mânica deverá ser encerrado nesta quinta-feira. Antério é irmão do fazendeiro Norberto Mânica, conhecido na cidade do Noroeste mineiro como o 'Rei do Feijão'. O fazendeiro foi condenado na última sexta-feira (31/10) como mandante do crime, com sentença de 25 anos para cada assassinato, totalizando 100 anos de prisão. Norberto vai recorrer da decisão em liberdade. Em 2004, três fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego foram executados a tiros. Eles fiscalizavam denúncias de trabalho escravo em fazendas da região.

Previsto inicialmente para terminar nesta sexta-feira (6), o julgamento de Antério poderá ser encerrado ainda hoje. A agenda divulgada nesta quinta-feira informa que na manhã de hoje serão lidas as peças processuais e apresentados vídeos e gravações telefônicas feitas pela força-tarefa que investigou o crime, integrada pelas polícias Civil e Federal.

Na tarde de hoje, a previsão é de realização de debates entre acusação e defesa. Antério Mânica deve depor antes do debate. A estimativa é que a leitura do processo, apresentação de vídeos e gravações durem seis horas. Outras cinco horas podem ser usadas  para os debates. Esse tempo descrito está previsto em lei. Contudo, os advogados e promotores têm a prerrogativa de gastar menos tempo. O interrogatório do réu, no entanto, não tem tempo determinado na legislação.

Acusação

O advogado das viúvas das vítimas e assistente da promotoria,  Antônio Francico Patente, antes do início do julgamento, nesta quinta-feira, informou que amanhã (6)  ele  irá se reunir com promotores para definir se vão pedir a anulação do acordo de delação premiada feito entre o Ministério Público Federal e o cerealista Hugo Alves Pimenta.

De acordo com Patente, a iniciativa se explica pelo fato de, nessa quarta-feira (4), ao chegar ao plenário do tribunal do júri, Pimenta, que foi arrolado como testemunha da acusação, fez um sinal com o polegar, símbolo de  'joia' ou 'legal', para Antério Mânica. " O gesto pode gerar várias interpretações. E não se pode dizer que não é um gesto de amizade. Essa solidariedade por ele (Hugo Pimenta) manifestada não pode ser prejudicial para a acusação", afirmou Patente.

Patente ressalvou que ainda que o  acordo de delação premida seja anulado, ele não terá repercussão  no resultado do julgamento de hoje, muito menos no ocorrido na sexta-feira (31/10), quando Norberto Mânica foi condenado. O único que perderia com essa anulação é Hugo Pimenta. Neste caso,  não seria beneficiado com a redução de pena, se condenado. O julgamento de Hugo Pimenta está marcado para o próximo dia 10, também em Belo Horizonte. Ele é acusado de intermediar  a contratação dos pistoleiros que executaram a tiros os fiscais e o motorista do Ministério do Trabalho e Emprego.

Gravações

Vídeo do depoimento de Norberto Mânica, na Polícia Federal, logo após o crime(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Vídeo do depoimento de Norberto Mânica, na Polícia Federal, logo após o crime (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Os vídeos apresentados na manhã desta quinta-feira são do depoimento de Norberto Mânica, na Polícia Federal, logo após os assassinatos. Também foram apresentadas gravações de conversas de  Norberto e Antério Mânica, por telefone, com funcionários das fazendas.

O registro das conversas dos dois irmãos revela o alerta deles para a presença de fiscais do trabalho na região. Antério e Norberto pedem nestas ligações para os funcionários "se precaverem". O objetivo da acusação é mostrar que a a família rastreava as movimentações de fiscais na região.

O juiz Murilo Fernandes de Almeida fez uma pausa no julgamento, com previsão de retorno a partir das 13 horas.

Entenda o caso

A Chacina de Unaí aconteceu em 28 de janeiro de 2004 e repercutiu mundialmente. Os auditores fiscais do Trabalho Erastótenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos a tiros enquanto faziam uma fiscalização de rotina na zona rural de Unaí.


A Polícia Federal (PF) pediu o indiciamento de nove pessoas por homicídio triplamente qualificado: os fazendeiros e irmãos Antério e Norberto Mânica, os empresários Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro e Francisco Elder Pinheiro, além de Erinaldo de Vasconcelos Silva e Rogério Alan Rocha Rios, apontados como autores do crime, Willian Gomes de Miranda, suposto motorista da dupla de assassinos, e Humberto Ribeiro dos Santos, acusado de ajudar a apagar os registros da passagem dos pistoleiros pela cidade.

Um dos réus, o empresário Francisco Elder, morreu no último dia 7, aos 77 anos. Apesar do crime ter sido cometido em 2004, os três primeiros responsáveis pela chacina de Unaí só foram condenados em agosto de 2013. Erinaldo de Vasconcelos Silva recebeu pena de 76 anos e 20 dias por três homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha, Rogério Alan Rocha Rios a 94 anos de prisão pelos mesmos crimes e William Gomes de Miranda a 56 anos de reclusão por homicídio triplamente qualificado.


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