Genebra - Autoridades suíças apresentaram mais de 60 denúncias por lavagem de dinheiro envolvendo pessoas ligadas ao escândalo da Petrobras. A informação faz parte do Escritório de Combate à Lavagem de Dinheiro da Suíça, que repassou as informações para o Ministério Público da Suíça, mas sem citar os nomes dos denunciados. O país europeu investiga três bancos por irregularidades no caso da Petrobras e indicou que os suíços poderiam ainda repassar dados sobre outras cem contas ao Brasil.
Na Suíça, o caso também abalou o sistema financeiro. Ao Estado, o porta-voz da Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro da Suíça (FINMA), Tobias Lux, informou que a entidade esteve em contato com "diferentes bancos e agentes de valores mobiliários diante do caso de corrupção ligado à Petrobras".
Regulação
Em março de 2014, alguns desses bancos foram orientados a congelar as contas de correntistas ligados à estatal. Em 2015, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também teve sua conta bloqueada no banco Julius Baer. Segundo o MP, foi o banco que informou sobre atividades suspeitas por parte do deputado.
Paralelamente, a agência reguladora decidiu agir. Duas perguntas foram enviadas aos bancos: até que ponto as instituições controlaram a origem do dinheiro no caso da Petrobras e se, uma vez detectados os problemas, o caso foi informado às autoridades judiciárias.
Em setembro, foram as conclusões sobre três bancos que chamaram a atenção da agência reguladora. "Para três bancos, a FINMA constatou a falta de dispositivos para lutar contra a lavagem de dinheiro", explicou Lux, que se recusou a dar os nomes dos bancos implicados. As instituições passarão, portanto, a fazer parte de um processo.
Pela lei, a FINMA poderá confiscar lucros e impor proibições a bancos que sejam julgados como não tendo cumprido as exigências de impedir a lavagem de dinheiro. Em casos extremos, um banco pode até mesmo ser obrigado a fechar, algo que jamais ocorreu na Suíça. A entidade também exigirá maior transparência dos bancos no futuro.
Corrupção
O caso envolvendo a Petrobras tem tido uma importante repercussão entre os bancos e as autoridades. Há duas semanas, a presidente do país, Simonetta Sommaruga, garantiu que vai ajudar o Ministério Público brasileiro a lutar contra a corrupção, seja quem for a pessoa sob suspeita ou o tamanho da empresa envolvida.
"Queremos lutar contra corrupção, independente de quem sejam a pessoa ou empresa sob suspeita", afirmou Sommaruga, que acumula o cargo de ministra da Justiça.
O caso da Petrobras obrigou os gerentes de contas em bancos suíços a redobrar seus cuidados com a abertura e transferências de contas relacionadas a pessoas que se apresentam como funcionários ou diretores da estatal. Segundo a Associação de Bancos da Suíça, uma orientação passou a circular entre as instituições para que verificassem de uma maneira mais cuidadosa a origem de ativos de pessoas que tentam abrir contas e que se apresentam como membros da estatal brasileira. "Não tivemos alternativa", disse à reportagem o presidente da entidade, Patrick Odier.
Para ele, porém, os bancos não podem ser culpabilizados pela abertura de contas em nome de pessoas envolvidas no caso da Petrobras. "Não acho que cabe aos banqueiros responder", insistiu. Patrick Odier é o presidente do Conselho de Diretores do banco Lombard Odier & Co Ltd. desde janeiro de 2014.
Segundo investigações, o ex-diretor de Internacional da Petrobras Jorge Zelada teria recebido parte da propina em uma conta em nome da offshore Tudor Advisory Inc, aberta no Lombard Odier, em Genebra. Paulo Barusco, ex-diretor da Petrobras, também teria aberto conta no banco de Patrick Odier, recebendo pelo menos US$ 200 mil.
À reportagem, um dos operadores citados pelos ex-diretores da Petrobras, Bernardo Freiburghaus, insistiu que não conhecia as pessoas que o citaram em delações premiadas, mas alertou que, se ele fosse preso, dezenas de outros intermediários também teriam de seguir na mesma linha. "Está vendo aquele prédio?", perguntou o operador, apontando a um banco. "Se eu for preso, tem de prender todos ali", completou. Desde a eclosão da Lava Jato, ele deixou o Rio de Janeiro e passou a viver em Genebra.