Brasília - Depois de dois dias de expectativas, prevaleceu a lógica e o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) foi escolhido relator do processo no Conselho de Ética que pode culminar com a cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A partir de hoje, Pinato terá 10 dias úteis para entregar um relatório preliminar sobre a admissibilidade da representação feita pelo PSOL e pela Rede. A próxima reunião do Conselho de Ética está marcada para o dia 24. Parlamentar de primeiro mandato, Pinato garantiu que está preparado para assumir o desafio de relatar “o processo mais delicado da história da Casa”. Jamais um presidente da Câmara foi processado no exercício do cargo. A situação mais próxima ocorreu com o processo movido contra o ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP) por envolvimento no mensalão. Mas, quando ele foi julgado por seus pares, não estava mais no comando da Câmara.
“Sou independente. É meu primeiro mandato e isso pesa a meu favor, pois quem tem muitos mandatos também tem muitas relações”, destacou ele.
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O presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PSD-BA), acredita ter feito uma escolha acertada ao optar por Pinato — os dois outros concorrentes eram Zé Geraldo (PT-PA) e Vinicius Gurgel (PR-AP). O primeiro poderia sofrer pressão da cúpula do partido e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, receosos quanto ao poder de Cunha de dar andamento aos processos de impeachment contra Dilma, defendem uma postura mais branda contra o peemedebista.
Já Vinicius Gurgel é ligado a Cunha, tendo sido, inclusive, coordenador da campanha do parlamentar fluminense à presidência da Câmara, em fevereiro. Existem, inclusive, fotos com o deputado do PR ao lado de Cunha celebrando a vitória no início do ano. “Eu não tinha como inventar muito. Eu não posso entrar em um restaurante de comida japonesa e pedir uma massa. Três nomes foram sorteados, decidi por aquele que considerei mais preparado para cumprir a missão”, disse José Carlos Araújo. Mais cedo, Araújo afirmou que Pinato “é um jovem advogado e foi assessor de dois ex-parlamentares nesta Casa”.
Carona de Russomano
Confirmado relator do processo contra Cunha, Pinato está em seu primeiro mandato como parlamentar e conseguiu uma cadeira na Casa com apenas 22 mil votos. A escolha do PRB como a legenda a se filiar foi pragmática: Pinato acreditou que o partido seria aquele com as melhores condições para se eleger em outubro do ano passado. A aposta foi acertada, já que o atual líder do PRB na Casa, Celso Russomanno (SP), conquistou 1,5 milhão de votos — a maior votação do país —, puxando outros candidatos com base no quociente eleitoral. Antes de se filiar ao PRB, Pinato era do PPS, mas jamais disputou qualquer eleição. Ele projetou-se para a política em 2011, quando denunciou ao Ministério Público o então prefeito de Fernandópolis (SP), Luiz Vilar de Siqueira (DEM). A acusação era de que o prefeito teria realizado licitações irregulares durante o mandato. Pinato responde a uma ação no STF por falso testemunho. Duas testemunhas trazidas em um processo por Pinato recuaram em suas declarações e o deputado acabou processado.
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