São Paulo – Investigadores da Operação Lava-Jato encontraram nas anotações da agenda do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, o registro do nome “Inácio” associado ao dono da agência de propaganda Muranno Brasil Marketing Ltda. A agência é investigada pelo recebimento de pelo menos R$ 6 milhões do dinheiro da propina arrecadada no esquema de cartel e corrupção na estatal a partir de 2010. Costa – primeiro delator da Lava-Jato – anotou em sua agenda pessoal referências a dois encontros, em 2012 e 2013, relacionados à Muranno e aos serviços prestados à Petrobras. Em um deles, o nome “Inácio” está associado a “Ricardo Villani” – argentino, dono da agência. “Reunião 10.10.12 / Inacio (Ricardo Villani)”, registra a anotação da agenda apreendida em sua residência, no Rio, em abril de 2014, quando Costa foi preso.
Os R$ 6 milhões foram pagos a Muranno a partir de 2010 pelo doleiro Alberto Youssef - peça central da Lava-Jato. Tanto o ex-diretor de Abastecimento como o doleiro afirmaram em suas delações premiadas que os pagamentos foram feitos a mando do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli por “pendências” da estatal com a agência. A Muranno prestou serviços de divulgação para a Petrobras em eventos da Fórmula Indy (EUA). Documentos entregues no mês passado pela estatal à Lava-Jato mostram que no ano de 2008 foram feitos 22 pagamentos oficiais para a agência, por ‘pequenos serviços’ - que dispensam licitações -, no total de R$ 2,5 milhões.
Os contratos da Muranno integram um pacote de pagamentos considerados irregulares pela própria companhia, que resultaram na demissão de um apadrinhado de Gabrielli, o ex-gerente de Marketing da área de Abastecimento Geovanne de Morais. Em outra folha da agenda, consta a seguinte anotação: “Image - Indy / 31/01/13 – Ricardo”. A Polícia Federal quer saber quem é “Inácio” e se as duas anotações têm relação com a Muranno, seu dono, Ricardo Villani, e os serviços da agência para a Petrobras.
A Muranno Brasil é alvo de um inquérito aberto pela Polícia Federal em 2014, no início da Lava-Jato, após ela aparecer nos pagamentos feitos por Youssef com recursos desviados da Petrobras via contratos da Camargo Corrêa - construtora acusada de cartel. Foram feitos pagamentos que totalizaram R$ 1,7 milhão entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 para a Muranno. No depoimento de 9 de setembro, Villani afirmou à PF que depois de se reunir pessoalmente com Paulo Roberto Costa foi procurado por Youssef, que se identificou como “Primo” e providenciou os pagamentos de parte da dívida. O dono da Muranno afirmou ter recebido só uma parte do montante e que não procurou a Justiça para cobrar a Petrobras porque nunca fez um contrato formal. Segundo o doleiro afirmou em sua delação premiada, a agência de propaganda era contratada pela Petrobras e tinha dívidas a receber. Villani estaria pressionando o governo Lula para obter os valores atrasados e ameaçava denunciar os esquemas de corrupção e propina na estatal - que era controlado pelo PT, PMDB e PP e virou alvo central da Lava-Jato.
Pressão
O ex-diretor de Abastecimento confirmou em depoimento à PF em julho que partiu do ex-presidente da Petrobras a ordem para o pagamento da Muranno. “Em determinada oportunidade, o então presidente da empresa Sérgio Gabrielli mencionou ao declarante a existência de uma ‘pendência’ da Petrobras junto a empresa (Muranno) e solicitou ao declarante que fosse resolvida”, afirmou Paulo Roberto Costa, no dia 14 de julho. Costa declarou no dia 14 que “não sabe dizer por qual motivo Gabrielli tenha intercedido” pela “empresa Muranno”.
Os pagamentos teriam começado no final de 2010, ano da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff. “Destinou no total aproximadamente R$ 6 milhões às duas empresas de publicidade”, explicou Youssef. “Pagou parte em dinheiro e parte em TEDs, feitas pela MO Consultoria ou Empreiteira Rigidez, e também pagou parte com depósitos da Sanko Sider.” As duas primeiras eram firmas de fachada de sua lavanderia e a Sanko atuava em parceria com seus esquemas de lavagem na Petrobras.Costa afirmou que iria conversar com o operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano “para poder conseguir pagamento da parte que caberia ao PMDB”.
DEFESA Sérgio Gabrielli disse que nunca teve contatos com a empresa Muranno. Segundo ele, somente depois das reportagens soube que prestava serviços para a Comunicação do Abastecimento e não para a Comunicação Corporativa. “Desta forma não poderia haver uma “pendência” da Petrobras com a referida empresa. Se havia alguma pendência com a área de Abastecimento, não era do conhecimento da Presidência da Petrobras.” Gabrielli disse ainda nunca ter tido esta conversa com Paulo Roberto Costa.”