Jornal Estado de Minas

Cunha reagrupa tropa de choque para evitar cassação do mandato


Brasília – Diante da batalha que se aproxima no Conselho de Ética da Câmara, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de ocultar aproximadamente US$ 5 milhões em propina em contas secretas na Suíça, reagrupa sua tropa de choque para tentar evitar a cassação do mandato. Mesmo diante de várias evidências sobre a movimentação milionária no exterior, com direito a extratos bancários e documentos em que são visíveis o passaporte e a assinatura do peemedebista, aliados fiéis prometem, nos bastidores, lutar até o fim para mantê-lo no cargo. Na linha de frente, estão os dois cães de guarda: Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), e André Moura (PSC-SE). Completam o time dos principais articuladores em favor do peemedebista, entre outros, os deputados Hugo Motta (PMDB-PB), que presidiu a CPI da Petrobras, Vinícius Gurgel (PR-AP), Artur Lyra (PP-AL), Washington Reis (PMDB-RJ) e Hildo Rocha (PMDB-MA).

O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, inclusive, trabalha para substituir o deputado Wladimir Costa (SD-PA) e ter direito a voto no colegiado. Ele também tenta, em outra ponta, desestabilizar um dos principais opositores de Cunha na Câmara, o deputado Chico Alencar (Psol-RJ). No fim do mês passado, o deputado representou contra o parlamentar no Conselho de Ética da Casa.

Paulinho acusou Alencar de “uso do erário da Câmara dos Deputados para fins eleitorais” por ter parte de sua campanha financiada por funcionários de seu gabinete, e diz que o deputado usou notas frias para ser reembolsado pela Câmara. No mesmo dia, Alencar rebateu as acusações e o chamou de “Paulinho Mandado”, numa referência à expressão “pau-mandado”, atribuída pelo doleiro Alberto Youssef ao deputado Celso Pansera, aliado de Cunha, hoje ministro de Ciência e Tecnologia.

Outro importante aliado do peemedebista é Hugo Motta. No comando da CPI, ele foi acusado de blindar o presidente da Casa, protelando pautar requerimentos de convocação de pessoas que pudessem comprometer o seu padrinho político na Casa, a exemplo do lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano.

Agora, a principal missão do grupo é arregimentar a maior quantidade de votos no Conselho de Ética.

Para se livrar da degola, Cunha precisa de 11 dos 21 votos do colegiado. Os aliados informam reservadamente que o peemedebista já conta com a garantia de pelo menos 10 deputados. Nos bastidores, vários integrantes do conselho atestam com segurança que seis parlamentares votam a favor do peemedebista. São eles: Mauro Lopes (PMDB-MG), Wellington Roberto (PR-PB), Vinícius Gurgel (PR-AP), Wladimir Costa (SD-PA), Erivelton Santana (PSC-BA) e Washinton Reis (PMDB-RJ).

Justiça

Alguns dos aliados que integram o colegiado estão encrencados na Justiça. O deputado Washigton Reis, ex-prefeito de Duque de Caxias, tem seis processos e uma batida da Polícia Federal no histórico. Segundo depoimento do lobista Fernando Baiano Soares, foi o próprio Eduardo Cunha quem o apresentou ao operador que fechou delação premiada na Operação Lava-Jato.

No entanto, Baiano disse que não fez negócios com Reis. No Supremo, por exemplo, o deputado responde a uma ação penal por formação de quadrilha e crimes contra o meio ambiente. Reis também é acusado de ação de improbidade administrativa na 2ª Vara Cível do Rio de Janeiro por supostas irregularidades em obras públicas quando era prefeito de Duque de Caxias. No STF, há ainda três inquéritos por irregularidades em licitações e um por crimes eleitorais.

Vinícius Gurgel (PR-AP) é alvo de três investigações por problemas eleitorais.Ele é muito próximo a Cunha. Foi coordenador da campanha do parlamentar fluminense à presidência da Câmara, em fevereiro. O deputado Wladimir Costa (SD-PA) e seu irmão Wlaudecir Costa respondem a ação penal por peculato ou desvio de dinheiro. Todos alegam inocência.

Durante a semana, Cunha chegou a comentar sobre sua expectativa em relação ao processo. “Tem muitos aliados meus e muitos adversários meus que estão (no Conselho). Ninguém pode ser estigmatizado por ser meu aliado, nem condenado por ser meu adversário”, defendeu. (Colaboraram Paulo de Tarso Lyra e Eduardo Militão)

Prazos

O julgamento de Cunha no Conselho de Ética vai ficar mesmo para 2016. Isso porque o colegiado tem 90 dias – a contar da instauração do processo, em 3 de novembro – para investigar o caso. Acontece que a Câmara entra em recesso em 22 de dezembro e só volta aos trabalhos em 2 de fevereiro. Escolhido como relator na última quinta-feira, Fausto Pinato passou a ter 10 dias úteis para dar um parecer preliminar do caso. Não se avalia agora o conteúdo do caso, mas sua admissibilidade técnica. A expectativa é que esse parecer preliminar seja colocado em votação na reunião marcada para 24 de novembro.

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