Brasília - Na tentativa de demover o relator-geral do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), de propor um corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família, o governo decidiu partir para uma "batalha de números". A intenção é mostrar que, neste momento de forte crise econômica, a "tesourada" no principal programa social reduziria em 2,9 milhões o número beneficiários no Estado de São Paulo, que seria o mais afetado pela redução das verbas.
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Relator do Orçamento rechaça que corte no Bolsa-Família levará milhões à misériaAjuste fiscal pode chegar ao Bolsa-FamíliaBeneficiários do Bolsa-Família têm medo de perder ajuda com cortes do governoO Bolsa-Família está inchado, diz um de seus criadoresCongresso analisa reajuste para o Bolsa-FamíliaCorte no Bolsa Família pode levar ao aumento da pobreza, diz ministraO Paraná, Estado do relator e comandado pelo também tucano Beto Richa, é o que mais perderia beneficiários em termos proporcionais: 75% do 1,4 milhão de pessoas contempladas sairiam do programa social.
A oposição também tem se posicionado contra o corte no programa. No Senado, Ronaldo Caiado (DEM-GO) já manifestou restrições à "tesourada".
Nas simulações, o critério do ministério para fazer o corte atinge inicialmente as famílias beneficiárias que trabalham e têm maior renda dentro do programa e, depois, aquelas que só contam com o Bolsa Família como fonte de renda. Por essa razão, São Paulo encabeça a lista, seguido por Minas Gerais e Bahia. Por outro lado, Estados mais pobres, como Piauí e Maranhão, teriam o menor corte proporcional, abaixo de 30% do total de beneficiários.
"É um contrassenso", afirmou o secretário de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Helmut Schwarzer. "Num momento como este, os beneficiários precisam de políticas que sejam um colchão, que amorteçam o impacto social e não que aprofundem as dificuldades", disse.
Segundo o secretário responsável por administrar o programa, pelas projeções, 7,9 milhões de pessoas entrariam na pobreza extrema com o corte, das quais 764 mil só em São Paulo.
Ensino
A pasta calcula ainda que haveria um aumento da evasão escolar das crianças, uma vez que, hoje, os alunos beneficiados com o programa têm frequência escolar 3,1% maior do que estudantes em condições similares, mas fora do Bolsa Família. Para se habilitar ao benefício ou à complementação de renda programa, a família tem de comprovar renda per capita de até R$ 154,00.
Os números foram encaminhados a Ricardo Barros, vice-líder do governo Dilma na Câmara, como parte da pressão que o Planalto faz para evitar que a proposta vá adiante. Para entregar um orçamento sem déficit, ele pretende cortar cerca de 35% dos 28,8 bilhões da verba prevista para o Bolsa Família em 2016. A diminuição nos repasses do programa atingiria 11,35% da população do País, calculada pelo IBGE em julho passado em 204,4 milhões de brasileiros.
Procurado, o relator reafirmou que vai propor o corte no programa e acredita ter votos para aprovar a proposta na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Ele não teme um prejuízo político-eleitoral com a medida impopular. Ao contrário, disse que seus eleitores apoiam a diminuição do Bolsa Família.
Parâmetros
"Ninguém concorda em rasgar dinheiro", disse Barros, ressaltando que auditorias do próprio governo apontam que 29% das famílias beneficiadas não se enquadram nos parâmetros de renda do programa. "Não comungo da visão do relator", rebateu Helmut Schwarzer, ao destacar que o programa é um dos mais auditados "do mundo".
Até o momento, além da discussão pública dos números do programa, não há uma estratégia definida na comissão para barrar a iniciativa.
"Não trabalhamos com a hipótese de diminuição do programa", disse o líder do governo na CMO, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Segundo ele, há tempo para reformar a proposta. .