O pagamento de R$ 2 milhões feito pelo doleiro Alberto Youssef, em 2010, a pedido do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa é o caminho que a Operação Lava-Jato trilha para chegar ao suposto uso de dinheiro de propina na campanha da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff. O pagamento envolveria um pedido do ex-ministro Antonio Palocci, que foi coordenador da campanha presidencial do PT naquele ano e um ex-assessor especial da Casa Civil Charles Capella de Abreu.
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'Era um ganha ganha', diz delator, sobre propina a políticos e empreiteirasInvestigadores da Lava-Jato descobrem outra prova de propinaTroca de mensagens aponta propina para parlamentares na Operação ZelotesPalocci recorre para revogar delações de Baiano e de doleiro"Tal pessoa tinha a cor de pela branca, estatura média alta, sendo um pouco mais alto que ele, que tem 1 metro e 71 centímetros, compleição física normal, mas se tratando de pessoa obesa ou de barriga saliente", descreveu o doleiro.
O suspeito recebeu Youssef em um quarto do hotel, conta o doleiro, que disse não se lembrar exatamente o mês, nem o dia, possivelmente "no período de junho a outubro de 2010". "Os R$ 2 milhões determinados por Paulo Roberto Costa a tal pessoa foram entregues em uma ou duas malas pequenas, do tipo daqueles que se leva como bagagem de mão em voos comerciais", afirmou Youssef ao delegado Luciano Flores de Lima, da equipe da Lava-Jato.
"Esclarece que pode ter sido uma mala pequena, com alça telescópica, e uma maleta, como costumava fazer para transportar essa quantidade de dois milhões de reais em notas de R$ 100,00, como foi no presente caso", anotou a PF. O doleiro disse que costumava usar esse tipo de bagagem para "não chamar a atenção, pois encaixava a maleta na alça prolongada da mala, puxando-as enquanto caminhava".
A PF mostrou uma foto de Charles Capella de Abreu para Youssef para saber se poderia ser ele o emissário que recebeu o dinheiro da propina da Petrobras. "Reconhece como sendo possível que a foto seja de tal pessoa referida acima, para a qual entregou os R$ 2 milhões em notas cuja maioria (cerca de 85%) eram em cédulas de R$ 100,00 por ordem de Paulo Roberto Costa", registra o depoimento. Em termos de probabilidade porcentual, Youssef disse acreditar que tenha "70% a 80% de certeza" se tratar da mesma pessoa.
Perguntado pelo delegado se conhecia Charles Capella de Abreu, Youssef respondeu que o nome não era estranho, mas não se lembrava se realmente o conhecia.
Acareação
O pagamento de R$ 2 milhões à campanha presidencial do PT em 2010 foi inicialmente apontado aos investigadores da PF, nas delações de Paulo Roberto Costa, o primeiro delator da Lava-Jato em agosto de 2014. O ex-diretor relatou ter recebido um pedido via Youssef, que teria falado no nome de Palocci.
Seria Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, operador de propinas ligado ao PMDB. Ele também fez acordo de delação premiada com a Lava-Jato e em depoimento no dia 15 de setembro revelou que aproximou Palocci de Costa.
Para isso, Fernando Baiano afirma ter se reunido com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que ele tentasse garantir a permanência de Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobras caso a candidata Dilma fosse eleita. Costa temia ser demitido do cargo.
Bumlai respondeu que sim (poderia ajudar) e que faria o que fosse possível, afirma Baiano. "Bumlai disse que a pessoa mais indicada para fazer a aproximação de Paulo Roberto Costa com o PT era Antonio Palocci, uma vez que era naquele momento o coordenador da campanha de Dilma Roussef e provavelmente seria o ministro da Casa Civil."
Fernando Baiano conta que acompanhou posteriormente Costa no encontro com Palocci, em Brasília. O ex-ministro teria falado que "haveria interesse por parte do PT" na continuidade dele na Diretoria de Abastecimento.
"Em seguida se passou a falar da campanha presidencial; que então Antonio Palocci falou que seria muito importante se Paulo Roberto Costa em sua relação com as empresas que eram prestadoras de serviços na Petrobras conseguisse ajudar com doações para a campanha de Dilma Rousseff."
Fernando Baiano afirma que o ex-diretor disse que poderia ajudar mas não falou sobre valores nem como seria essa ajuda.
"No final da conversa, Antonio Palocci disse que havia uma pessoa que trabalhava com ele, possivelmente um assessor dele, que o estava ajudando nesta parte de arrecadação", explicou Fernando Baiano. "Pelo que se recorda, o nome dessa pessoa era Charles.
Paulo Roberto Costa foi colocado frente-a-frente com Fernando Baiano na quinta-feira, 5, e negou que tivesse participado de reunião com ele e Palocci para tratar do assunto. O ex-diretor sustenta ter ouvido de Youssef o pedido de R$ 2 milhões para a campanha do PT a pedido do ex-ministro.
DEFESA - PALOCCI
O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, foi taxativo. "Estão querendo fazer uma delação de conciliação para tentar eliminar as insuperáveis e intransponíveis divergências. Mentiras ditas pelos três envolvidos (Fernando Baiano, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef), um desmentindo o outro. Inventam mil mentiras, mas a verdade teima em aparecer. É um escândalo de invencionices com a finalidade de escapar da cadeia. Uma coisa absolutamente inidônea, claramente inverossímil com a qual não se compadece a seriedade da Justiça."
Batochio reafirma que "Palocci jamais se reuniu com esse Fernando Baiano, não o conhece, nunca o viu na vida, em lugar algum".
"É preciso que a Justiça cancele os benefícios aos mentirosos e deve fazê-lo de ofício, sem ter que esperar ser provocada. A Justiça tem compromisso com a verdade e não com escambos, com trocas que escapam da moralidade."
Perguntado se o desmentido de Paulo Roberto Costa foi bom para a defesa de Palocci, o advogado criminalista disse. "Foi bom para a verdade e para a Justiça."
Batochio disse ter sido informado que, na acareação, Fernando Baiano confundiu-se até na hora de informar onde ficou hospedado em Brasília e quem fez a reserva para ele..