Enquanto permanecia calado sobre a manutenção de contas na Suíça, a situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já era ruim, mas, depois das entrevistas que o peemedebista deu na sexta-feira passada alegando ser apenas “usufrutuário” delas, o clima parece ter piorado de vez para ele. Em apenas dois dias, Cunha conseguiu perder o apoio do PSDB na Câmara, ser derrotado na votação do projeto de repatriação de recursos e ser denunciado na Organização dos Estados Americanos (OEA). Em meio a tudo isso, foram divulgados documentos mostrando que, ao contrário do que o peemedebista disse, ele movimentou dinheiro no país europeu.
Extratos enviados à Procuradoria-Geral da República (PGR) mostram que Cunha fez duas movimentações nas contas no ano passado. Em janeiro, 328 mil francos suíços foram convertidos em US$ 387 mil e usados para pagar um investimento em ações da Petrobras na Bolsa de Nova York. Em abril, assim que ocorreram as primeiras prisões da Operação Lava-Jato, 970 mil francos suíços foram transferidos para outra conta suíça que tem Cunha como beneficiário e a conta Orion foi fechada.
A conta havia sido abastecida em junho de 2011 pelo lobista João Augusto Henriques, com 1,3 milhão de francos suíços. O depósito, que corresponde a R$ 4,8 milhões, ocorreu depois da venda de um campo de petróleo na África para a Petrobras. Também veio à tona nessa quinta-feira (12) que Cunha deu o nome da mãe como senha para consultas ao banco suíço Julius Baer, na conta Triumph-SP. Os investigadores entendem que essa é mais uma evidência de que era o peemedebista que controlava o dinheiro no exterior. Segundo o Ministério Público da Suíça, há provas de que as contas são de Cunha e de que a origem do dinheiro é ilícita.
TRAIÇÃO Na noite de quarta-feira, com ajuda da oposição, a base governista conseguiu aprovar o projeto da repatriação de recursos, que faz parte do ajuste fiscal do governo federal. No texto, foi fixado que os detentores de cargos públicos e seus familiares não entram na anistia concedida pelo programa de repatriação de recursos de fora do país, o que impacta diretamente na situação de Cunha. O sinal da traição havia sido dado mais cedo, quando o PSDB anunciou que abandonou o barco do peemedebista, fechando questão de que o partido votará contra ele no processo de cassação do mandato no Conselho de Ética e no plenário. A decisão da bancada havia sido tomada na terça-feira.
Somado a tudo isso, o movimento Fora, Cunha, conduzido em sua maioria por mulheres nas ruas do país, cresceu e elas foram à OEA denunciá-lo pelo projeto que dificulta o aborto legal no Brasil. De autoria do peemedebista, o texto passa a exigir boletim de ocorrência e exame de corpo de delito para que elas possam interromper a gravidez fruto de violência sexual. Cunha e os outros 11 deputados que assinaram o projeto são acusados pela ONG Artemis de “grave violação aos direitos humanos das mulheres”. A entidade alega que eles estariam tentando retirar direitos fundamentais das mulheres.