Brasília – A divulgação de trechos do depoimento de Luís Cláudio da Silva, filho caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à Polícia Federal, no qual ele se complica ao não esclarecer detalhes de contratos milionários sob investigação da Operação Zelotes, irritou o Ministério da Justiça. O teor do depoimento foi publicado na edição desse sábado da revista Época, que destacou ainda o reconhecimento do lobista Mauro Marcondes Machado à PF de que as cifras pagas ao filho de Lula eram “absurdas”. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Federal apure o suposto vazamento relacionado a Luís Cláudio.
O filho caçula do ex-presidente não soube explicar em depoimento à Polícia Federal, em 4 deste mês, quanto cobrou por suas horas de trabalho para fechar negócio de R$ 2,5 milhões com o escritório Marcondes & Mautoni. A Operação Zelotes suspeita que o dinheiro tenha relação com a “compra” de medidas provisórias a fim de beneficiar montadoras com isenção de impostos. Luís Cláudio Lula da Silva declarou à PF que fez “relatórios” de “projetos” na área de esporte que só ficaram no papel. Segundo a revista, o filho do ex-presidente disse que usava o valor das horas de trabalho para calcular o preço do serviço, cujos pagamentos foram feitos em 2014 e este ano. “Que não sabe mensurar, neste momento, o valor cobrado pela sua hora de trabalhar”, disse ele, de acordo com a revista.
Luís Cláudio afirmou nunca ter atuado naquela área específica antes. “Que nunca tinha realizado estudo ou projeto contendo o mesmo objeto deste contrato”, afirmou ele, de acordo com reprodução do depoimento. A defesa do empresário afirmou ontem que isso significa que “o trabalho entregue ao contratante foi original”. O trabalho era sobre a “preparação do Brasil para megaeventos, como a Olimpíada de 2016”, segundo nota do defensor de Luís Cláudio. A empresa não tinha funcionários. Tudo foi feito por Luís Cláudio. “A trajetória profissional de nosso cliente o capacita, inequivocamente, para a realização dos trabalhos contratados”, disse nota divulgada ontem.
A polícia não encontrou os relatórios e os contratos dos trabalhos quando cumpriu mandados de busca e apreensão nas três empresas ligadas ao filho do ex-presidente, como a LFT Marketing Esportivo, em 26 de outubro, na quarta fase da Zelotes. Luís Cláudio disse que levou os papéis para seus advogados após 10 de outubro. Os documentos foram entregues à PF em 4 de novembro. De acordo com a revista, os contratos envolvem trabalhos como Copa do Mundo, violência nos estádios e “elaboração de análise de marketing esportivo como fator de motivação e integração nas empresas com exposição de casos e oportunidades”. O dono da Marcondes & Mautoni, Mauro Marcondes, não informou à PF o objeto da contratação da LFT. Ele disse que pagou os valores, mas até seu estagiário achou os valores cobrados por Luís Cláudio “absurdos”. A reportagem não obteve esclarecimentos do advogado de Marcondes.
PATROCÍNIO
Após seu depoimento, a defesa de Luís Cláudio informou que ele manteve contato com o escritório de Marcondes após perder o patrocínio da Hyndai para o campeonato de futebol americano que organiza, o Touchdown. “Disse ter chegado a essa empresa quando procurava patrocínio no setor da indústria automobilística”, segundo nota de 4 de novembro. Detalhes de como se deu esse encontro não foram esclarecidos pela defesa, para quem o cliente “já prestou os esclarecimentos e afastou qualquer ligação com ilícitos”.
A pedido da defesa de Luís Cláudio, o Ministério da Justiça ordenou que a Polícia Federal apure suposto vazamento do depoimento. No entanto, a 10ª Vara Federal determinou que o inquérito é público. Em 6 de novembro, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região ordenou o sigilo apenas de documentos apreendidos pela PF. Os contratos e relatórios citados no depoimento de Luís Cláudio, e anexados a ele, não foram apreendidos pela polícia porque foram retirados do escritório antes e levados aos advogados do filho de Lula. A defesa e o Ministério da Justiça não comentaram a decisão do TRF.