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Estado de Minas

Cada vez mais cercado de denúncias, Cunha se "desidrata" na Câmara

Ao perder apoio no próprio partido e entre as legendas que ajudaram a elegê-lo para o comando da Casa, o peemedebista fica cada vez mais perto de perder o mandato


postado em 15/11/2015 06:00 / atualizado em 15/11/2015 08:41

(foto: Lula Marques/Agencia PT )
(foto: Lula Marques/Agencia PT )

Brasília – Cada vez mais cercado de denúncias, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vem se desidratando em prestígio dentro do próprio partido. Já é majoritário o número de filiados e militantes que olham com ressalvas a situação de Cunha, optando por esperar a defesa que pretende apresentar ao Conselho de Ética nesta semana para definir se prestam ou não solidariedade ao comandante da Câmara. Segundo nome na linha sucessória da Presidência da República, Cunha era visto, até quatro meses, como um provável candidato ao Planalto em 2018. Hoje, não consegue mais obter o apoio da maioria dos correligionários. “A situação dele é dramática e tem se deteriorado rapidamente, especialmente nos últimos três dias”, disse um integrante da cúpula partidária.

Cunha, no entanto, ainda conta com o apoio de uma parte do PMDB, sobretudo entre os deputados. Líder da bancada entre 2014 e 2015, antes de vencer a eleição para a presidência da Casa, Cunha ainda é considerado o grande líder dos peemedebistas da Câmara. “Não podemos menosprezar o atual líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Mas, entre os deputados, Cunha está colhendo o que semeou e plantou no passado recente”, disse um deputado próximo ao presidente da Câmara e que torce para que Cunha consiga responder, no Conselho de Ética, às acusações que pesam contra ele.

Esse grupo ainda é um pouco maior do que aqueles que defendem, abertamente, a saída de Cunha da presidência. “Como confiar numa pessoa que mente sobre contas bancárias na Suíça, já confirmadas pela Procuradoria?”, questionou, há um mês, o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), a voz mais contundente dentro do partido a defender a defenestração do peemedebista fluminense.

Outros ressentidos admitem a dificuldade para prestar solidariedade. “Como nós vamos declarar apoio se nunca sabemos o que está acontecendo? Ele não conta a história toda e nós acabamos sendo surpreendidos com os fatos”, reclamou um antigo companheiro, preterido em embates internos recentes. Esse mesmo peemedebista ironizou sobre as estratégias traçadas por Cunha. “Ele combina uma coisa à noite e, no dia seguinte, quando abre os jornais, é obrigado a replanejar o roteiro diante das novas denúncias”, provocou o ex-aliado.

Na semana que passou, após ser abandonado pelos partidos de oposição, Cunha recebeu apoio de líderes de 13 partidos, que defenderam o direito de ele responder às acusações na condição de presidente da Casa. Entre os signatários, aparece Leonardo Picciani. “Ele assinou por decisão própria, não houve qualquer consulta à bancada”, reclamou um parlamentar.

Perspectiva

Na verdade, Picciani, na opinião de correligionários, tenta se reposicionar. No início do ano, quando Cunha deixou a liderança para disputar a presidência da Casa, praticamente impôs aos demais comandados o nome de Picciani para sucedê-lo. Embora tenha dito de que não interferiu na disputa, os derrotados Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e Danilo Forte (hoje no PSB-CE) demoraram um tempo para curar as feridas. Mas Picciani, estimulado pelo pai, Jorge, presidente da Assembleia Legislativa do Rio, começou a se animar com a perspectiva de poder e passou a deslizar na Casa conversando sobre a possibilidade de um pós-Cunha, apresentando-se como alternativa. Ele e Jorge até se reuniram com a presidente Dilma Rousseff para, em tese, discutir a sucessão municipal fluminense. Mas a disputa pela Câmara foi o assunto principal do encontro.

No Senado, Cunha não conta com apoio. Uma das expectativas de Cunha ao buscar ganhar tempo é torcer para que surjam denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A exemplo do presidente da Câmara, Renan também está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, mas o processo contra ele corre em um ritmo mais lento, tanto no Ministério Público quanto no Supremo Tribunal Federal. “Se surgirem provas contra Renan, Cunha pretende cobrar do PT e do Planalto o mesmo tratamento. Se estes pedem a renúncia de Cunha, deverão pedir também a de Renan”, admitiu um petista.


Rejeição dentro do próprio PMDB

Brasília – O PMDB realizará um Congresso na terça-feira, em Brasília, mas, para evitar desgaste ao partido, algumas lideranças defendem que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não compareça. Alvo da Operação Lava-Jato por suspeita de participação no esquema de desvio de recursos da Petrobras e acusado de ter mentido à CPI da estatal ao afirmar que não tem contas bancárias no exterior, Cunha responde a dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e a um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara.

Pensado inicialmente para marcar – ou, pelo menos, pressionar os aliados do Planalto – desembaque do governo, o evento foi esvaziado gradualmente pela ação da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer. Dilma ampliou os espaços do partido na Esplanada, entregando, inclusive, o Ministério da Saúde, que tem o maior orçamento do primeiro escalão federal. Além disso, a cúpula partidária e o Instituto Ulysses Guimarães elaboraram um documento intitulado “Uma ponte para o futuro”.

No texto, foram apresentadas uma série de propostas econômicas, políticas e sociais como alternativas para encerrar a recessão que assola o país. “O texto foi bem recebido, inclusive, por aqueles que defendiam o desembarque do governo. A intenção era justamente fazer com o que o PMDB retomasse a dianteira nos debates sobre o atual momento”, explicou um aliado do vice-presidente Michel Temer. Além da análise aprofundada sobre o documento, serão apresentadas também propostas de mudanças para o estatuto da legenda.


Acordo barra conselho de ética

Brasília – O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), colocou panos quentes em um imbróglio envolvendo o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) para evitar que um processo disciplinar reabrisse os trabalhos no Conselho de Ética da Casa. De acordo com parlamentares, o movimento foi feito para evitar que a reabertura pudesse estimular senadores a aproveitar a atividade e apresentar processos contra colegas alvos da Operação Lava-Jato. Renan e outros 10 senadores são investigados sob a suspeita de terem recebido recursos da Petrobras. Procurado, ele não foi encontrado para falar sobre o assunto.

No fim de outubro, Caiado discutiu com Braga aos xingamentos de “bandido” e “safado” em uma reunião da Comissão Mista Permanente de Mudanças Climáticas do Congresso. Para o caso não descambar para as agressões físicas, os dois precisaram ser contidos por Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE).

A confusão começou quando Caiado fazia perguntas ao ministro sobre a renovação de concessões de distribuidoras e sobre o processo de privatização da Companhia Energética de Goiás (Celg). Ele chamou a atenção do ministro para que prestasse atenção aos questionamentos.

Braga disse que havia ido à audiência para tratar de clima e não do assunto colocado pelo senador, e tentou pedir desculpas por ter se virado. “Estou aqui com a maior educação, mas vim aqui para debater clima”, disse. Caiado se irritou e decidiu deixar a comissão. Enquanto saía, Braga disse: “Vossa Excelência deveria ficar calmo. Vossa Excelência está desequilibrado”. Neste momento, Caiado voltou e foi em direção ao ministro com o dedo em riste afirmando que estava sendo desrespeitado.

ARGUMENTO


Durante a sessão, Coelho afirmou que iria pedir as imagens e o áudio da reunião para enviar o material à Mesa Diretora do Senado, que deveria avaliar se houve quebra de decoro parlamentar, o que geraria um processo contra Caiado no Conselho de Ética. Quando o caso chegou ao conhecimento de Renan, o peemedebista atuou para convencer os senadores a esquecer o processo. O argumento usado foi que, diante da crise política no país e das denúncias de corrupção contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não seria positivo para o Senado que o Conselho de Ética da Casa fosse reativado.

O último caso analisado pelo colegiado, responsável por julgar a conduta ética dos senadores, foi em 2013, envolvendo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ele foi acusado de ter recebido propina do senador João Capiberibe (PSB-AP), na época governador do Amapá enquanto Randolfe era deputado. O próprio Renan já foi alvo do Conselho. Em 2007, ele chegou a se licenciar da presidência do Senado após responder às denúncias no órgão.

Os caciques e Cunha

Michel Temer,

vice-presidente
Tem agido como conselheiro político de Cunha, mas sempre pende para o lado do governo durante os arroubos oposicionistas do presidente da Câmara. Não vai propor uma moção de apoio a ele.

Renan Calheiros,
presidente do Senado
Desde que Cunha foi eleito presidente da Câmara, vive uma relação de parceria e antagonismo. Uma queda do peemedebista fluminense seria bom para Renan, já que ele reassumiria um protagonismo isolado no Congresso.

Eunício Oliveira,
líder do PMDB no Senado
Um dos que organizam a vida partidária e os congressos da legenda, também se sentia incomodado com a postura de estrela do presidente da Câmara.

Eduardo Paes,
prefeito do Rio
Principal nome do PMDB no estado, provável candidato do partido ao governo estadual ou, até mesmo, à Presidência da República em 2018, Paes tem todo o interesse no ocaso de Cunha.

Leonardo Picciani,

líder do PMDB na Câmara
Eleito líder da bancada com o apoio de Cunha, negociou pessoalmente dois ministérios para os deputados e ainda trabalha para suceder a Cunha na presidência da Casa.


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