Brasília - Depois de sofrer o mais forte desgaste público desde que foi convidado pela presidente Dilma Rousseff a assumir o Ministério da Fazenda, há exatamente um ano, o ministro Joaquim Levy conseguiu, enfim, fazer andar a segunda fase de seu ajuste fiscal no Congresso graças a uma aproximação atípica com o PMDB e o PSDB, principal partido de oposição ao governo. Levy não pode nem sequer “usufruir” dos avanços da última semana, uma vez que o Planalto tem dado sinais de insatisfação, pela primeira vez, com o desempenho do ministro. Mas seus movimentos políticos recentes ao menos permitiram colher vitórias inéditas neste segundo semestre.
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Em jantar com senadores, Levy ignora pressão e defende ajuste fiscal rápidoDilma pede a líderes no Congresso prioridade para medidas de ajuste fiscalMesmo sem aprovar ajuste, governo discute o pós-ajusteGovernador de SC critica quadro fiscal brasileiroPresidente condiciona permanência de LevyPSDB diz na CMO que quer discutir receitas antes de votar meta fiscal de 2015"Levy fica onde está", diz Dilma na TurquiaDireção do PMDB precisa de habilidade para aferir vontade da maioria, diz PadilhaPMDB usa congresso para reforçar as críticas ao modelo econômico petistaEsses três pontos do ajuste, que faziam parte da estratégia de Levy apresentada em agosto, caminharam depois de semanas de estagnação total após uma movimentação política incomum para Levy, que buscou aproximação com o PMDB e ajudou a coordenar um acordo do governo com o PSDB, no caso da DRU. Esses movimentos, mesmo contando com apoio do PT da Câmara no caso da DRU, não mudaram a visão de parte importante do partido, que tem engrossado o tiroteio iniciado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sonha pela troca de Levy por Henrique Meirelles, que comandou o Banco Central de 2003 a 2010.
Tal qual Levy, Meirelles pertenceu ao governo Lula, tem proximidade com o mercado financeiro, segue uma linha de pensamento econômico ortodoxo e próxima dos tucanos, e tem canais com Washington (EUA). O excesso de semelhança, no entanto, não faria da troca um “seis por meia dúzia”, segundo explicou ao Estado um parlamentar petista próximo a Lula e crítico de Levy. A ideia é que Meirelles, por ter mais “estofo” que Levy, poderia conduzir o ajuste fiscal mais rapidamente, gerando assim as condições para a retomada de uma agenda de crescimento.
Movimentações
Sob pressão, Levy fez movimentações políticas inéditas para, enfim, fazer o ajuste fiscal andar no Congresso, depois de dois meses praticamente parado. Na terça-feira, 10, o ministro foi jantar com 40 dos 81 senadores, organizado pelo PMDB. Do encontro participou inclusive o ex-senador José Sarney, cardeal do partido no Senado até hoje, ao lado de Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE) e do presidente da Casa, Renan Calheiros (AL).
Levy ouviu diversas críticas à política econômica, como o excesso de ênfase dada ao aumento de impostos e a falta de uma agenda positiva. Apesar do clima pesado, Levy seguiu os ritos políticos e, no dia seguinte, emitiu nota pública com elogios aos senadores do PMDB. Depois, Levy ajudou a coordenar acordo entre o governo e o PSDB para fechar o inédito apoio dos tucanos à proposta de prorrogação da DRU até 2023.
Esses movimentos - e o sucesso verificado nesta semana - deram sobrevida à Levy, que trabalha para agradar empresários e parlamentares com medidas positivas, desta vez.
Segundo fontes próximas ao ministro da Fazenda, ele continua imbuído da “missão” conferida a ele no fim do ano passado, de ajustar as contas públicas depois dos excessos do primeiro mandato de Dilma, quando uma série de manobras contábeis, como as pedaladas fiscais, foram praticadas para maquiar a piora das contas federais. Para ele, somente uma melhora consistente do quadro das contas poderá criar as condições para a queda da taxa básica de juros, mantida atualmente pelo Banco Central em 14,25% ao ano - a maior do mundo. .