São Paulo - A compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006, pode ter sido motivada por interesses políticos, e o fim do litígio com a sócia belga Astra Oil, que resultou na aquisição da totalidade das ações, pode ter rendido propinas entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões. As informações foram dadas a investigadores da Lava-Jato na semana passada por um novo delator, Agosthilde Mônaco de Carvalho, funcionário da Área Internacional da estatal, que participou do negócio. A compra da refinaria é o alvo da 20ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nessa segunda-feira (16). Carvalho afirmou que, em 2006, quando a Petrobras pagou US$ 416 milhões por metade de Pasadena, todos sabiam que a refinaria estava sucateada, com diversos equipamentos enferrujados - daí o apelido de “ruivinha”. Ele disse ter ouvido de Nestor Ceveró, então diretor da Área Internacional, que matariam “dois coelhos com uma única cajadada”, pois ele (Cerveró), sabia que José Sérgio Gabrielli, presidente da estatal, tinha “alguns compromissos políticos a saldar” e, também, passariam a refinar óleo nos Estados Unidos.
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Pasadena teve 'acerto' de US$ 15 milhões, apontou operador do PMDBDelator diz que Pasadena poderia 'honrar compromissos políticos' de GabrielliPasadena era 'ruivinha' que precisava 'de um banho de loja', diz delatorGabrielli volta a defender compra de Pasadena e critica 'ilações' de delatoresPropina em Pasadena poderia chegar a US$ 100 milhões, segundo delatorEx-gerente da Petrobras diz à PF 'não saber explicar' depósito de lobistaDe acordo com o depoimento, a Odebrecht envolveria também na reforma de Pasadena as empresas Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiróz Galvão e Ultratec. Failhaber teria dito a Carvalho que esse foi o verdadeiro motivo da abertura do processo de arbitragem contra a Petrobras.
Os investigadores da força-tarefa da Lava-Jato vão pedir a anulação da compra da refinaria de Pasadena, no Texas. “Vamos tentar anular a compra ou ressarcir o patrimônio brasileiro”, afirmou o procurador da República Carlos Lima, em coletiva na sede da Polícia Federal de Curitiba. “Pasadena ainda se encontra em posse da Petrobras até onde sei. Houve pagamento de propina seja no nosso país, seja no Estados Unidos. Isso é um vício. Temos que buscar reparação. Esse foi um mau negócio”, afirmou Lima, parafraseando a ex-presidente da Petrobras Graça Foster que, ao admitir erros na aquisição da refinaria, também disse que a compra foi um mau negócio.
CORROSÃO Em cumprimento à 20ª fase da Operação Lava-Jato, chamada de Operação Corrosão, duas pessoas foram conduzidas por agentes da Polícia Federal à sede da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, na Praça Mauá, região central da capital fluminense, por volta de 9h dessa segunda-feira.
Houve ainda cinco mandatos de conduções coercitivas (quando a pessoa é obrigada a depor e liberada logo em seguida) contra César de Sousa Tavares, ex funcionário da área internacional da Petrobras; Rafael Mauro Comino, ex gerente de inteligência da área internacional; Luís Carlos Moreira da Silva, substituto do Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, e principal consultor do caso Pasadena; Aurélio Oliveira Teles, funcionário da área internacional; e Carlos Roberto Martins Barbosa, também funcionário da área internacional. Já Glauco Colepicolo Legati, gerente de empreendimentos da área internacional, é alvo de busca por parte da PF.
A 20ª fase investiga funcionários e ex-funcionários da Petrobras. Segundo a Polícia Federal, esta nova etapa da investigação envolve contratos relacionados com as refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Pasadena, nos Estados Unidos. Ao todo, foram liberados pela Justiça 11 mandados de busca e apreensão, dois mandados de prisão temporária e cinco mandados de condução coercitiva nas cidades de Rio de Janeiro, Rio Bonito (RJ), Petrópolis (RJ), Niterói (RJ) e Salvador.
ARGÔLO CONDENADO
A Justiça Federal no Paraná condenou nessa segunda-feira o ex-deputado federal Luiz Argôlo por crimes investigados na Operação Lava Jato. Ele é o terceiro político a ser condenado, após as condenações de André Vargas e Pedro Corrêa. Argolo foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 11 anos e 11 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro em regime fechado. Cabe recurso.