Jornal Estado de Minas

Peemedebistas repetem jogo de cena em encontro do partido

Militantes do partido pedem que Temer assuma a Presidência da República - Foto: José Cruz/Agência BrasilBrasília – O congresso da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos do PMDB, serviu como palco para um jogo de cena em que cada dirigente e parlamentar da legenda representou um papel esperado no encontro. Com os microfones abertos, o Hotel Nacional, onde ocorreu nessa terça-feira (17) a reunião, foi palco para discursos inflamados do grupo a favor do desembarque imediato do governo federal e contrários à gestão da presidente Dilma Rousseff, mas também teve falas no sentido inverso. O encontro chegou a ter manifestações com bonecas da petista e vaias ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado por corrupção. Mas, apesar dos bate-bocas, o congresso não teve caráter deliberativo. E o próprio o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente do partido, em discurso mais ameno, afirmou que não é hora de a sigla deixar o governo.


O encontro era para discutir o programa de governo do PMDB, intitulado Uma ponte para o futuro, divulgado no fim do mês passado, que traz críticas às propostas econômicas do PT e tenta posicionar o PMDB como alternativa de poder. Os debates serviram como gancho para discursos duros contra e a favor da saída do governo, ponto sem consenso na legenda. Mesmo sob a avaliação de aliados de que não deveria comparecer ao encontro, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi até o local e recebeu vaias de um pequeno grupo, que exigiu a saída dele. Ao mesmo tempo, outros militantes que defendem o desembarque imediato do partido do governo da presidente Dilma Rousseff pediam que Temer vestisse “a faixa já”.

Declarado oposicionista ao governo e integrante da ala a favor da ruptura, Cunha defendeu o distanciamento da sigla de Dilma e a necessidade de um candidato próprio em 2018.

“Essa voz (do PMDB) não pode ser abafada por meia dúzia de carguinhos. O PMDB terá candidato em 2018. Isso é inevitável”, disse Cunha. Durante a reforma ministerial, em outubro, a legenda ganhou mais dois ministérios totalizando sete no total.

No lugar de vaias, o vice-presidente foi recebido ao palco com gritos de “Brasil pra frente, Temer presidente”. O presidente do PMDB, porém, teve seu discurso interrompido por um outro grupo de manifestantes que levantaram pequenas bonecas infláveis da presidente vestida com uma faixa presidencial com os dizeres “impeachment”. Temer se dirigiu aos manifestantes e disse: “Por enquanto, não, obrigado. Vamos esperar 2018.
Vamos montar um candidato, um grande nome do PMDB. Estou encerrando minha vida pública”, completou Temer, que tem 75 anos.

Em seguida, usou esse tom para conduzir o discurso que já havia preparado. Ressaltou que o partido terá candidato próprio em 2018 e falou sobre a crise que o governo atravessa. O vice-presidente também fez declaração semelhante à que deu em agosto e que irritou o governo, por soar como a apresentação de uma nova opção ao poder e falou da necessidade de alguém para “reunificar” o país. “Não é de hoje que tenho falado em reunificar o pensamento nacional e pacificar a nação. Não é da índole do brasileiro a disseminação do ódio”, disse.

Um dos líderes do grupo que pede o desembarque do governo, o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima foi firme no pedido. “Se queremos ter condições de falar de candidatura em 2018, temos que ter a coragem de abandonar os cargos nesse governo”, disse.

REPERCUSSÃO Apesar de ter repetido uma fala que já havia irritado o governo, o discurso do vice-presidente não foi visto como inoportuno. A avaliação, no Palácio do Planalto, é a de que Temer conseguiu contextualizar o discurso e, portanto, construiu uma mensagem equilibrada.
Para interlocutores de Dilma, a fala foi contrária à do chamado “grupo do barulho”, que quer a saída imediata do governo e acabou por ser em defesa ao governo.

“Foi outro Temer. Ele conseguiu fazer um equilíbrio entre a posição partidária e a de vice-presidente”, disse um assessor palaciano. O Planalto avaliou também que o congresso serviu para que entender a posição de Temer no partido e demonstrou que o vice-presidente reforçou sua liderança na legenda. Sobre os outros discursos, já era esperado no Planalto que houvesse falas inflamadas em todos os sentidos.

 

 

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