O encontro era para discutir o programa de governo do PMDB, intitulado Uma ponte para o futuro, divulgado no fim do mês passado, que traz críticas às propostas econômicas do PT e tenta posicionar o PMDB como alternativa de poder. Os debates serviram como gancho para discursos duros contra e a favor da saída do governo, ponto sem consenso na legenda. Mesmo sob a avaliação de aliados de que não deveria comparecer ao encontro, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi até o local e recebeu vaias de um pequeno grupo, que exigiu a saída dele. Ao mesmo tempo, outros militantes que defendem o desembarque imediato do partido do governo da presidente Dilma Rousseff pediam que Temer vestisse “a faixa já”.
Declarado oposicionista ao governo e integrante da ala a favor da ruptura, Cunha defendeu o distanciamento da sigla de Dilma e a necessidade de um candidato próprio em 2018. “Essa voz (do PMDB) não pode ser abafada por meia dúzia de carguinhos. O PMDB terá candidato em 2018. Isso é inevitável”, disse Cunha. Durante a reforma ministerial, em outubro, a legenda ganhou mais dois ministérios totalizando sete no total.
Em seguida, usou esse tom para conduzir o discurso que já havia preparado. Ressaltou que o partido terá candidato próprio em 2018 e falou sobre a crise que o governo atravessa. O vice-presidente também fez declaração semelhante à que deu em agosto e que irritou o governo, por soar como a apresentação de uma nova opção ao poder e falou da necessidade de alguém para “reunificar” o país. “Não é de hoje que tenho falado em reunificar o pensamento nacional e pacificar a nação. Não é da índole do brasileiro a disseminação do ódio”, disse.
Um dos líderes do grupo que pede o desembarque do governo, o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima foi firme no pedido. “Se queremos ter condições de falar de candidatura em 2018, temos que ter a coragem de abandonar os cargos nesse governo”, disse.
REPERCUSSÃO Apesar de ter repetido uma fala que já havia irritado o governo, o discurso do vice-presidente não foi visto como inoportuno. A avaliação, no Palácio do Planalto, é a de que Temer conseguiu contextualizar o discurso e, portanto, construiu uma mensagem equilibrada. Para interlocutores de Dilma, a fala foi contrária à do chamado “grupo do barulho”, que quer a saída imediata do governo e acabou por ser em defesa ao governo.
“Foi outro Temer. Ele conseguiu fazer um equilíbrio entre a posição partidária e a de vice-presidente”, disse um assessor palaciano. O Planalto avaliou também que o congresso serviu para que entender a posição de Temer no partido e demonstrou que o vice-presidente reforçou sua liderança na legenda. Sobre os outros discursos, já era esperado no Planalto que houvesse falas inflamadas em todos os sentidos.