Brasília - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello defendeu nessa quinta-feira (19) afastamento espontâneo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é alvo de processo de cassação no Conselho de Ética da Casa e investigado no tribunal por suspeita de participação no esquema de corrupção na Petrobras. Para o ministro, a saída de Cunha representaria um gesto de grandeza e melhoria o cenário de crise que o país enfrenta. “Nós precisaríamos aí de uma grandeza maior para no contexto haver o afastamento espontâneo. Quem sabe até a renúncia ao próprio mandato”, disse o ministro. “(A saída dele) Melhoraria, sem dúvida alguma, porque teríamos a eleição de um novo presidente para a Câmara. Ele continuaria no desempenho do mandato, porque, de qualquer forma, ele está na cadeira por algum tempo, tendo em conta apenas o mandato”, completou.
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Datafolha mostra que quase metade dos deputados quer renúncia de CunhaCunha anseia por provas contra Renan para exigir que PT também peça a renúncia do senadorÀ espera de Lula, integrantes da juventude petista pedem saída de Cunha e LevyCunha usa cargo contra ação, dizem adversáriosSegundo investigadores, essa etapa ocorreria após o Supremo decidir se aceita denúncia que já foi oferecida contra o peemedebista por crimes ligados aos desvios da estatal.
Para Marco Aurélio, manobra para atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato, que investiga o pagamento de propinas milionárias em contratos da Petrobras, e o andamento do processo de cassação “é lastimável” e que não se pode admitir ações que impeçam o funcionamento de um órgão da Casa Legislativa.
O ministro afirmou que é preciso ter esforços para driblar as crises político e econômica, que atingem em cheio o cidadão. “Temos que guardar princípios. Em época de crise, é importantíssimo guardar princípios e valores para que as instituições realmente cumpram seus deveres. Vamos tentar suplantar esta crise, que é uma crise de descompasso entre Executivo e Legislativo, e que aprofunda a crise que mais repercute na mesa do trabalhador que é a crise econômica e financeira”, afirmou.
Na Câmara, Eduardo Cunha é acusado de ter mentido a seus pares durante depoimento à CPI da Petrobras, quando negou que possuía contas secretas no exterior, principalmente na Suíça, e offshores. O deputado alega que não enganou seus pares, uma vez que as contas são administradas por empresas. Depois de receber um dossiê do Ministério Público da Suíça, a Procuradoria pediu abertura de inquérito ao STF para investigar se propina de contratos da Petrobras abasteceram as contas no banco estrangeiro.
Cunha ainda é alvo de outro inquérito no STF, no qual foi denunciado por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro, por ter recebido US$ 5 milhões em propina de contratos de navios-sonda da Petrobras.
O Ministério Público da Suíça associou quatro contas ao deputado, com cópia de passaporte diplomático, endereço de sua casa, no Rio, e assinatura. Cunha nega participação nos desvios na Petrobras.