Brasília - Manobras protelatórias, com apoio de alas expressivas do PT e do PMDB, que levaram à suspensão e ao posterior cancelamento da sessão no Conselho de Ética para votar o parecer preliminar de Fausto Pinato (PRB-SP), o relator do caso, dando continuidade ao processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi combustível para uma rebelião histórica de parlamentares. Na tarde dessa quinta-feira (19), no meio de uma sessão deliberativa, uma centena de deputados, incluindo oposicionistas, se retirou do plenário e marchou aos gritos de “Fora, Cunha” até o Conselho de Ética para retomada da reunião.
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Cunha chama de 'aberração' sessão informal do Conselho de ÉticaRelator do caso Cunha no Conselho de Ética se emociona com apoio de parlamentaresCom plenário esvaziado, Cunha suspende anulação da reunião do Conselho ÉticaCongresso da Juventude do PT termina em racha e dissidentes protestam em BrasíliaPMDB realiza amanhã convenção estadual no RioPPS entrará com ação no STF por afastamento de Cunha da presidência da CâmaraÀ espera de Lula, integrantes da juventude petista pedem saída de Cunha e LevyCunha usa cargo contra ação, dizem adversáriosAs manobras em favor de Cunha começaram cedo. Marcada para as 9h30, a sessão do conselho só foi aberta às 10h23, justamente quando atingiu o quórum de 11 deputados. Os deputados petistas Zé Geraldo, Valdir Prascidelli e Leo Brito e os peemedebistas Mauro Lopes e Whashington Reis não apareceram.
Os aliados de Cunha pressionavam o presidente alegando que ele não poderia mais esperar que o quorum fosse atingido. Paulo Pereira da Silva (SD) e André Moura, que integram a linha de frente da tropa de choque de Cunha, afirmaram que Araújo só poderia esperar 30 minutos.
Além do presidente e do relator, estavam Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Betinho Gomes (PSDB-PE), Júlio Delgado (PSB-MG), Nelson Marchezan (PSDB-RS), Paulo Azi (DEM-BA), Sandro Alex (PPS-PR), além dos suplentes Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Capitão Augusto (PR-SP) e Jorginho Mello (PR-SC). Só depois de iniciada a sessão, o deputado José Geraldo apareceu. Ficou calado durante a reunião.
A bancada do PT na Câmara se reunirá nos próximos dias em busca de um posicionamento sobre a situação de Cunha.
Após a retomada da sessão do conselho, Henrique Fontana (PT-RS) disse que os atos do dia mostraram que Cunha não tem condições de presidir o parlamento: “Hoje foi uma demonstração limite do autoritarismo e desrespeito ao regimento interno para sua defesa’”.
INVESTIGAÇÃO Cunha encaminhou ofício ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pedindo abertura de inquérito policial para apurar denúncias de que Pinato e a família foram ameaçados. O parlamentar afirmou que não comentaria o assunto e assegurou que permanece à frente da relatoria. O deputado Sandro Alex, que integra o Conselho de Ética, disse que Pinato sofreu ameaças e constrangimentos dentro de fora da Câmara. Cunha também negou ter feito manobras e criticou a atuação do conselho. “Parece que estão querendo atropelar o regimento interno e a Constituição visando buscar outro tipo de coisa que não é o cumprimento da legislação”, disse.
Ele comentou que seus advogados não orientaram parlamentares e que não se sentiu constrangido com os atos contra ele durante o dia. “Para minha posição, a decisão do plenário é absolutamente irrelevante, porque tudo o que poderia acontecer hoje (nessa quinta-feira) seria facilmente derrubado pelas aberrações que foram feitas desde o início da manhã. Não era isso que estava me preocupando”, afirmou.
"Está configurada uma série de irregularidades. Poderia demandar um monte de recursos, à CCJ, ao Supremo por uma série de violações regimentais e de cerceamento de defesa” - Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados.