Brasília – A cena emblemática da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) pedindo, emocionada, mas incisiva, que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se levantasse da cadeira de presidente da Câmara é o ápice de uma rejeição que, ao que tudo indica, aumentará a ponto de colocar em risco não apenas a presença dele no comando da Casa como também o próprio mandato do ex-todo-poderoso peemedebista. De comandante de um bloco com quase 300 parlamentares criado para infernizar a vida do governo em 2014, passando pela eleição com 267 votos favoráveis para presidir a Câmara em fevereiro deste ano, Cunha agora acumula inimigos, insatisfeitos, abandonados e o risco de ver seu futuro definido em um ano eleitoral, com uma votação aberta no plenário que hoje preside. “Ele vai cair, a questão é quando”, resumiu o professor de ciência política da PUC-RJ Cézar Romero.
Romero lembra que, desde que iniciou a ascensão no cenário político, Cunha foi bastante esperto ao traçar a rota para essa caminhada. “O problema é que não é possível ser esperto o tempo todo.” Em primeiro momento, lembra o professor, Cunha teve habilidade para se embrenhar no desgaste do governo recém-eleito de Dilma Rousseff, acusado de estelionato eleitoral pela guinada econômica, para apresentar-se como alternativa. Foi além. Conquistou o apoio do PMDB e de diversos outros partidos que tinham criado ojeriza ao PT e deu uma surra no candidato petista, Arlindo Chinaglia (SP), vencendo a disputa em primeiro turno. Depois, já eleito, equilibrou-se entre o medo dos petistas de que poderia abrir um processo de impeachment e o desejo da oposição de que ele fizesse isso. “Em momentos de pressão, há quem prefira submergir e quem opte pelo protagonismo.
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Já o professor de ciência política da Unb Ricardo Caldas lembra que, apesar de todas as acusações vindas do exterior de ser titular – ou usufrutuário – de contas na Suíça, o que complica a vida de Cunha neste momento é a mentira que ele contou na CPI da Petrobras.