Brasília - O Planalto pode até liberar os deputados do PT a atuar de maneira incisiva contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que enfrenta um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara, mas, para isso, eles terão de garantir os votos e ainda convencer os demais integrantes da base aliada a aprovarem as medidas econômicas que ainda estão em tramitação no Congresso e que são consideradas vitais pelo governo para que o país vire a página do ajuste fiscal. “É um jogo de xadrez complicado”, avalia um interlocutor importante do governo. O governo quer a ajuda do PT para aprovar o orçamento, a repatriação, a Desvinculação das Receitas da União (DRU) e a mudança da meta fiscal. Mas não quer criar “clima de guerra” para dar motivos de retaliação a Cunha, informou. A primeira etapa do acordo já está praticamente fechada. Os três petistas do Conselho de Ética devem votar a favor do relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP), que pede a continuidade do processo contra Cunha.
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STF deve avaliar decisão sobre Cunha só em 2016Seis partidos fecham acordo contra Cunha e decidem obstruir votações na CâmaraIntegrantes da tendência petista jantaram ontem com o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, para discutir a posição da bancada. Mas, antes disso, já tinham recebido sinais do governo de que poderiam até ter liberdade no Conselho de Ética, mas precisarão garantir — no PT e entre os aliados — os votos necessários para a aprovação das medidas econômicas consideradas impopulares pelo partido. Se até o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já fala em pós-ajuste, o PT não pode ficar preso nesse enredo eterno.
O deputado Paulo Teixeira afirma que a briga tem que ser feita no Conselho de Ética, no plenário e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) apenas. “O parlamento vai resolver essa questão, e não permitirá qualquer obstrução”, disse.
Na manhã de hoje, Rede, PSOL e PPS devem pedir à Procuradoria-Geral da República uma representação no Supremo Tribunal Federal a favor da saída de Cunha porque ele, no entendimento dos opositores, atrapalha as investigações no Conselho de Ética. À tarde, o colegiado se reúne para votar o parecer de Pinato. Os aliados de Cunha pedirão vista para tentar esticar o processo até semana que vem, segundo Paulinho da Força (SD-SP). Ele desdenhou da iniciativa dos inimigos do presidente da Câmara de recorrer ao Judiciário. “Se os seus pares não querem cassar (Cunha), vem um ministro do Supremo para cassar?”, ironizou. “É a mesma coisa que nós aqui quereremos votar o afastamento de um ministro do STF.” Ontem, Cunha voltou a negar ter feito manobras para impedir a sessão do Conselho de Ética da semana passada. Ele afirmou que os horários das sessões do plenário — que impediram as votações no colegiado que o investiga — tinham sido acertados na véspera com os colegas.
Cunha é acusado de mentir ao esconder contas na Suíça por onde foram movimentados R$ 33 milhões. Os investigadores da Operação Lava-Jato suspeitam que o dinheiro inclua propinas recebidas de esquemas de desvios da Petrobras, motivo pelo qual o deputado, alvo de dois inquéritos, já foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro no Supremo Tribunal Federal (STF).
FHC DEFENDE SAÍDA DO PEEMEDEBISTA
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem a renúncia de Cunha.
Partido aliado do PSDB, o PPS já afirmou que vai ingressar com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal pedindo o afastamento de Cunha da Presidência da Câmara. Os tucanos romperam com Cunha no início deste mês, por considerarem insatisfatórias as explicações do peemedebista cobre contas que ele manteve na Suíça, suspeitas de serem irrigadas com recursos desviados da Petrobras, conforme investigação do Ministério Público Federal. Na quinta-feira passada, pela primeira vez desde que assumiu o comando da Câmara, Cunha teve sua atuação questionada em plenário de forma mais dura, com críticas nos microfones e uma debandada de cerca de 100 deputados.
Cunha disse que não teme obstrução da oposição em votações no plenário enquanto ele estiver na presidência. “Todos eles juntos não têm números suficientes para impedir a Câmara de funcionar”, disse..